segunda-feira, outubro 23, 2006

Pedestres e pedestres

Aqui em Santos, mesmo após toda a propaganda feita sobre o perigo de caminhar sobre a ciclovia, inaugurada em dezembro de 2003, não são poucos os pedestres que ainda teimam em andar nela, causando riscos a si próprios e aos ciclistas, patinadores, skatistas e cadeirantes. Porém, se consultarmos o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), veremos que os patins e os skates não são considerados veículos, e sim apenas "brinquedos". Por incrível que pareça, nossa legislação de trânsito ainda ignora a indiscutível função veicular de tais objetos.

Na cidade de São Paulo, por exemplo, é cada vez mais comum o uso de patins por entregadores e office-boys em geral, devido à sua maior mobilidade em relação às bicicletas, estas sim consideradas veículos. Porém, a partir do momento em que patinadores e skatistas são considerados pedestres comuns, como punir, por exemplo, patinadores que atropelam pedestres? Tecnicamente, é impossível, pois pedestre não atropela pedestre. Mas o que fazer quando um dos pedestres calça um tipo especial de sapatos que o impulsionam a andar bem mais depressa do que os verdadeiros pedestres comuns? A confusão está armada.

Você já imaginou um boletim de ocorrência elaborado por policiais que estejam por dentro das normas de trânsito? Pedestre atropela pedestre na ciclovia. No mínimo, estranho, não é? Porém, se pensarmos bem, num país em que os "seqüestros-relâmpago" ainda são tipificados pelo Código Penal como meros roubos seguidos de extorsão, sem a caracterização do crime de seqüestro, por que esperar que o Código de Trânsito Brasileiro seja atualizado o quanto antes?

sexta-feira, outubro 20, 2006

Quer conversar? Tome um táxi!

Não são poucas as pessoas que menosprezam integrantes de determinadas categorias profissionais por acharem que eles não têm informação nem cultura suficientes para que se desenvolva uma boa conversa. Ledo engano. Hoje, vou falar sobre a minha categoria predileta para conversar: os taxistas.

Como eu ainda não tenho carteira de motorista e preciso, freqüentemente, deslocar-me rapidamente da minha casa a certos lugares e vice-versa, sempre tomo um táxi. Uma coisa que qualquer usuário freqüente do serviço de táxi pode observar é o fato de que os taxistas, quando não estão conversando com seus colegas de praça, estão lendo. E eles lêem muito: jornais, a Bíblia, livros laicos etc. Quando não estão lendo algo, estão conversando; quando não estão conversando, estão lendo algo. Raríssimos são aqueles que não costumam fazer nem uma coisa nem outra, até porque deve-se levar em conta que, muitas das vezes, quando eles não estão fazendo nem uma coisa nem outra, estão cochilando. E mesmo assim, mais raros ainda são aqueles que só cochilam e nada mais.

Sempre que me aproximo de um táxi, o taxista destrava a porta do banco do carona, já falando algo e me cumprimentando em seguida. Após também cumprimentá-lo, puxo conversa sobre qualquer assunto e, quando percebo, já estamos conversando a vários minutos. O que me deixa mais admirado e, às vezes, confesso, surpreso, é o fato de que os taxistas estão sempre bem-informados, antenados que são ao mundo que os cerca. Muitos deles são capazes de opinar sobre os mais variados assuntos com total desembaraço e sem reles palpites. Raros são os taxistas adeptos do famigerado clichê Eu acho que, pois, apesar de suas escolaridades serem equivalentes à média nacional, eles sabem muito mais do que muitos catedráticos que eu conheci, os quais são exímios palpiteiros, isto é, pautam suas opiniões e teses sob meros achismos.

Já fiz corridas com inúmeros taxistas que poderiam, sem falso elogio, ser verdadeiros livres-docentes em badaladas universidades santistas, pois, mesmo quando eles não sabem algo, eles perguntam em vez de palpitar, e calam ao ouvir as respostas e os comentários dos passageiros, aceitando-os como válidos até prova em contrário, e não rechaçando-os com o rei na barriga da arrogância propedêutica da qual muitos professores se investem.

Os taxistas estão entre as minha categorias prediletas para um bom papo sobre - repito - qualquer assunto. Eles possuem a informação, o conhecimento, a cultura e a humildade necessários para conversar de igual para igual com qualquer freguês. Em outras palavras, eles são vendedores natos, pois vendem seu peixe, isto é, seu serviço, como poucas outras categorias o fazem.

terça-feira, outubro 03, 2006

Ledo engano

Poucas horas depois de afirmar categoricamente que o segundo turno seria disputado entre Lula e um suposto triunvirato composto por Geraldo Alckmin, Cristóvam Buarque e Heloísa Helena, ouvi as declarações dela no rádio. Heloísa afirmou categoricamente que não apoiará nem Lula nem Alckmin e que nem ela nem nenhum outro político do PSOL poderá dizer publicamente em quem votará, exceto os militantes do partido. Heloísa afirmou que ambos representam o famigerado "modelo neoliberal", e que, portanto, nem ela nem o PSOL como um todo apoiarão nenhum dos dois. Já o caso de Cristóvam é igual ao do ex-fumante que tolera o tabagismo mas que jura jamais pôr um cigarro na boca de novo, isto é, seu antipetismo é menos forte que seus anseios por mudanças, logo, ele também não pregará o voto contra Lula.

Logo depois de ouvir tudo isso, pensei: como pude cair em tamanha cilada, armada por mim mesmo? Pensei que Heloísa Helena fosse se entregar à realpolitik. Ledo engano. Este foi o meu segundo arrependimento na minha relação com a política. O primeiro aconteceu justamente pela razão contrária, isto é, por pensar que o santista Vicente Cascione não se entegraria à realpolitik. Nas eleições municipais de 2004, votei nele para prefeito de Santos. Dois anos depois, em meados deste ano, atinei com o fato de que ele, que sempre foi um crítico acérrimo do PT, vendeu-se ao petismo, tornando-se vice-líder do governo Lula na Câmara dos Deputados. Mas o problema não é uma pessoa mudar de opinião, e sim ter uma opinião para cada ocasião, o que demonstra uma flexibilidade politiqueira que denota um caráter torto e relativista. Em termos ideológicos, pode-se dizer que Cascione é um esquizofrênico, pois seu partido sempre foi o "PVC - Partido Vicente Cascione".

Heloísa Helena é um fenômeno inédito na história republicana do Brasil. Sua única equivalente feminina em termos de ousadia foi a estadista imperial Princesa Isabel. Entretanto, o que difere as duas são as intenções finais dos projetos de cada uma: no caso da estadista, a liberdade dos brasileiros de todas as cores; no caso da comunista, a escravidão dos brasileiros de todas as classes. Eu, que cheguei a pensar que Heloísa tinha adquirido um pingo de racionalidade, perdi totalmente minhas esperanças. Errei. Errei por crer que todos mudam. Ledo engano. Há pessoas que nascem e morrem com os mais variados desvios de caráter. Há pessoas que nascem e morrem comunistas. Assim é o mundo cão da política. Quanto maior for a ilusão, maiores serão as trevas do desgosto. A cilada é mais vergonhosa quando é fruto de um ledo engano. Assim o foi Heloísa Helena: meu segundo ledo engano.

Os partidos menores e a cláusula de barreira

Nas democracias modernas, existem 2 sistemas partidários: o bipartidarismo e o pluripartidarismo. Ambos possuem defensores e detratores ferrenhos, além, é claro, de uma grande massa de desinformados. Entre os desinformados, o povo brasileiro merece atenção especial, pois nós não apenas não sabemos votar como também não sabemos o que queremos. Digo isto porque quando o Brasil possuía, por força de lei, apenas 2 partidos, o povo clamava pelo pluripartidarismo; agora que temos 29 partidos, tendo quase batido na casa das 3 dezenas de legendas, o povo reclama que há partidos demais e clama pela volta do bipartidarismo.

O pluripartidarismo brasileiro é uma piada de mau gosto. Trata-se de um dos pluripartidarismos mais caóticos da Via Láctea. Uma das principais características do nosso pluripartidarismo foi, ao longo dos anos, o crescimento quantitativo, e não qualitativo, dos partidos. Das 29 legendas hoje existentes, apenas 4 partidos podem ser considerados grandes de fato: PT, PSDB, PMDB e PFL. O resto são partidos médios ou pequenos.

Alguns partidos menores, tanto médios quanto pequenos, estão negociando fusões, as quais, como eu já disse em 1o. de março, acabarão por criar verdadeiros PMDBs de médio-porte, isto é, "balaios de gatos" sem a menor coesão, heterogêneos, rachados em alas antagônicas.

Porém, um detalhe com o qual eu não havia atinado até hoje é o fato de que é muito mais provável que haja, em vez de fusões de legendas, uma migração massiva de políticos para os 4 partidos majoritários, principalmente para o PMDB, por razões históricas, uma vez que desde a sua criação, em 1966, o então MDB reunia políticos que, em sua grande maioria, tinham em comum apenas e tão-somente a luta contra a ditadura militar, cujo partido situacionista era a Aliança Renovadora Nacional, mais conhecida como Arena. O MDB sempre foi uma legenda "ecumênica" em termos ideológicos, pois lá dentro havia - e há - de tudo, isto é, políticos das mais diferentes linhas políticas e escolas ideológicas. Traduzindo o que estou falando para uma linguagem mais prática, quero dizer que o PMDB, desde os tempos do MDB, congrega políticos de todo o espectro ideológico, isto é, algo como admitir, nas suas fileiras, de Heloísa Helena a Enéas Carneiro.

Voltando ao cerne do artigo, a cláusula de barreira não vai, pelo menos a priori, matar partido algum, apesar de que, a posteriori, para os partidos menores que não se fundirem, ela representará não um fuzilamento, mas um tiro na barriga...

segunda-feira, outubro 02, 2006

O Estado de Minerva

Ao contrário do que os institutos de pesquisa alardeavam, haverá segundo turno na disputa eleitoral para a Presidência da República. Ao que me parece, eis que se manifestou mais uma vez o império da opinião publicada, aquele mesmo que ruiu quando da totalização dos votos relativos ao Referendo do Desarmamento, dando uma vitória acachapante ao Não em todos os Estados e no Distrito Federal.

Após a totalização dos votos para presidente em 25 Estados e no Distrito Federal, São Paulo foi o fiel da balança, ou, em outras palavras, o Estado de Minerva. O fato de São Paulo ser o Estado-chave das eleições presidenciais contribuiu para a confirmação do segundo turno. Para sorte do Brasil, Geraldo Alckmin saiu do Governo de São Paulo para concorrer à Presidência muito bem cotado pelo eleitorado paulista.

Não foram poucos os que disseram que Alckmin não conseguiria enfrentar a popularidade de Lula e levar a eleição presidencial para o segundo turno por ser famoso apenas no Estado de São Paulo, mas estes pessimistas não atinaram com o fato de que ser famoso apenas em São Paulo não é o mesmo que ser famoso apenas no Piauí, por exemplo. O Estado de São Paulo é, de longe, o maior colégio eleitoral do Brasil, com 28 milhões de eleitores, enquanto que o segundo maior, Minas Gerais, tem menos da metade, isto é, apenas 13 milhões de eleitores.

Assim como nas eleições presidenciais norte-americanas, em que a Flórida costuma ser o Estado de Minerva no Colégio Eleitoral, o Estado de São Paulo, cuja votação foi a última a ser totalizada, lançou um verdadeiro tsunami de votos pró-Geraldo, em oposição ao nordeste, em cujos 9 Estados Lula ganhou. Afinal, num país federativo, sempre haverá Estadões e Estadinhos, e sempre haverá Estados-chave que definirão os resultados eleitorais, como fiéis da balança nacional.

Sorte do Brasil que diante do impasse entre a reeleição e o segundo turno, São Paulo tenha sido o Estado de Minerva, encarregado de definir os rumos do País pelos próximos 4 anos. A partir de agora, se tudo der certo, Lula terá que enfrentar um verdadeiro triunvirato antilulista, composto por Geraldo Alckmin, Heloísa Helena e Cristóvam Buarque, uma frente ampla contra a reeleição do líder supremo do governo mais corrupto da história do Brasil, tanto republicana quanto imperial.

Antilulistas e antipetistas do Brasil, a sorte está lançada!