terça-feira, julho 31, 2007

Quem é poliglota é metido a besta?

Vamos analisar essa notícia veiculada pela internet:

A reprodução, feita pela Radiobrás, do discurso do presidente Lula em João Pessoa omitiu um trecho em que o presidente critica as pessoas que falam línguas estrangeiras. "A língua é o valor da pátria. Temos que aprender a falar corretamente a nossa língua. Brasileiro falando a língua do outro é um metido a besta.", declarou Lula.

Pode-se detectar, nesse mísero trechinho de discurso, alguns sentimentos e opiniões que um presidente da República até pode ter, mas que ele não deveria compartilhar com o povo. Essa declaração carrega consigo um mix de inveja, complexo de inferioridade transformado em afetação de superioridade e apologia da ignorância disfarçada de patriotismo.

Falar corretamente a nossa língua não tem nada a ver com falar outras línguas. Uma coisa não anula a outra. Além do mais, quem é Lula para dizer que nós brasileiros devemos aprender a falar português corretamente? Quem disse que o que ele fala é português? Seu lulês não engana mais nem as massas iletradas do nordeste, pois Lula felizmente (e finalmente) já começou a ser vaiado lá também, mais especificamente em Sergipe, onde, assim como no resto do nordeste, obteve uma votação expressiva.

Outra coisa que se deve dizer é que ser monoglota não tem nada de mais, mas como Lula certamente deve se sentir bastante inferiorizado por não falar nem português direito, então, ele sobe num palanque no nordeste e declara que quem fala línguas estrangeiras é metido a besta. Porém, esse patriotismo de araque já não serve mais para disfarçar o fato de que Lula é irritantemente inculto. Amar a sua pátria não tem nada a ver com ser poliglota ou monoglota ou falar certo ou errado sua língua-mãe.

Será que Lula ainda não percebeu que existe uma diferença abissal entre falar apenas inglês e falar apenas português, por exemplo? Algumas línguas são, naturalmente, mais cosmopolitas do que outras. O mundo é assim, gostemos ou não, e sempre foi assim, aliás. O inglês desempenha o papel, hoje em dia, do francês, do latim e do grego há tempos atrás.

sexta-feira, julho 20, 2007

Como assim a favor ou contra?

Ano passado, eu estava em casa conversando sobre política com um amigo do meu irmão quando, num dado momento do papo, resolvi ler para ele um dos meus artigos publicados neste mesmo blog, quando, no meio do texto, li o trecho: "Nos Estados Unidos, país infelizmente muito pouco admirado por aqui..." e fui interrompido pela seguinte pergunta: "Você é a favor dos Estados Unidos?" Nesta fração de segundo, diante de uma pergunta tão surreal, fui obrigado pelas circunstâncias a improvisar uma resposta "clichê". Eu lhe respondi: "A favor em alguns pontos, contra em outros..." e continuei lendo o texto. Horas depois, quando estava me preparando para dormir, refleti: "Que raciocínio mais torto! Os Estados Unidos são, simplesmente, uma realidade, e como tal, não se pode (ou pelo menos não se deve) ser contra a realidade, sob pena de perder a noção da vida real, imprescindível para a compreensão correta dos fatos que se-nos apresentam. Além disso, ser contra os Estados Unidos é o mesmo que ser contra a lei da gravidade, por exemplo: adianta? Essa epidemia nacional chamada anti-americanismo faz com que os brasileiros em geral acreditem que os Estados Unidos sejam, como civilização, um pacote: ou você é favor de tudo o que todos os americanos fazem ou você é contra tudo o que todos eles fazem. Mas esse raciocínio tem uma falha grave: cada americano é um, assim como cada ser humano em geral é um, também.

Argumentar a favor ou contra a Guerra do Iraque, por exemplo, faz sentido, pois é um fato sujeito a toda a realidade do mundo à volta dos Estados Unidos; tanto do seu governo quanto do seu povo. Porém, quando um cidadão começa a tratar países e instituições como blocos monolíticos, ignorando totalmente a existência e as diferenças entre cada indivíduo, a situação começa a virar uma verdadeira calamidade cognitiva, se bem que personalizar as instituições em geral, não apenas as instituições políticas, é uma espécie de mania nacional, haja vista a neurose coletiva de milhões de brasileiros que esperam, praticamente desde sempre, o advento de um "salvador da pátria" que, da noite para o dia, resolverá todos os problemas do nosso país.

Um país cuja grande maioria dos cidadãos acredita piamente que George W. Bush é os Estados Unidos e vice-versa certamente tem algo de muito errado na definição conceitual e prática que o brasileiro comum cria para si a respeito do que vem a ser uma instituição, qualquer que seja.

Não se deve jamais esquecer ou ignorar o fato incontestável de que quase todas as instituições, tais como os governos e os países como um todo, são conjuntos de indivíduos, e todas as tentativas de coletivização dos grupos sócio-econômicos, quaisquer que fossem, principalmente quando acompanhadas da aplicação de ideologias materialistas que consideram o indivíduo um meio perfeitamente sacrificável em prol da causa revolucionária, mataram mais gente do que a Inquisição e as grandes pestes e epidemias, por exemplo. Para as ideologias revolucionárias em geral, principalmente para o socialismo, qualquer coisa pode se transformar em motivo para escravizar ou mesmo exterminar milhões de cidadãos desse ou daquele país. O desprezo do ativista revolucionário pelo indivíduo é perfeitamente compreensível: é muito mais fácil controlar uma massa amorfa de militantes uniformizados do que convencer um eleitorado num regime que assegure as liberdades democráticas e os direitos naturais.

Entretanto, existe uma instituição específica cuja grande maioria do povo não personaliza de jeito nenhum: o Governo Lula. É claro que isso não é à toa, pois Lula é um tótem de carisma, o maior fenômeno de magnetismo político e hegemonia eleitoral desde Getúlio Vargas. Por algum motivo ainda não explicado, nada referente à corrupção e ao caos administrativo do governo, principalmente do PT, adere à imagem de Lula, fazendo com que ele continue conseguindo escapar absolutamente ileso do mal-estar da crise. Contudo, como diria Diogo Mainardi, o PT (ou "petismo", como ele prefere chamá-lo) é um pacote: quando você vota em Lula, você está dando carta-branca a todo um esquema de corrupção e revolução institucional cujo principal líder e beneficiário é o próprio Lula, apesar de que a grande maioria do povo brasileiro é meramente lulista, e não petista, e não devemos nos esquecer de que o povo praticamente inteiro não vota em partido nenhum, mas sim mera e tão somente na pessoa do candidato.

Enfim: nosso povo só não personaliza as instituições justamente quando deveria fazê-lo.