quarta-feira, dezembro 24, 2008

Confirmação do "Dr. Jivago"

O arquiteto Percival Puggina escreveu o seguinte comentário no seu site pessoal:

VIDA PRIVADA E STALINISMO
Percival Puggina
21/12/2008
Está para ser lançado no Brasil o livro “Sussurros: a vida privada na Rússia de Stalin”, do historiador britânico Orlando Figues, que coletou, para a obra, centenas de histórias narradas pelos sobreviventes do stalinismo. Um dos paradigmas que, segundo ele, nortearam aquelas décadas de agressão à intimidade pessoal foi proposto pelo primeiro Comissário do Povo Soviético para Educação e Cultura, Anatóli Vasilievitch Lunacharski – para quem “a chamada esfera da vida privada não pode nos escapar porque é precisamente aí que o objetivo final da Revolução deve ser atingido”.

Fonte: www.puggina.org


Agora, penso cá comigo: será que o professor sobre quem falei recentemente gostaria de viver nesse "1984 stalinista"? Se ele acha que o conceito de vida privada é produto do capitalismo, será que ele gostaria da evasão de privacidade provocada pelo regime comunista? Tem gosto para tudo, não é mesmo?

Brasão de Santos

Apesar de o Brasão ter sido remodelado pela Lei nº 2.134, de 12 de setembro de 2003, o Brasão que se vê até hoje na entrada do Túnel Rubens Ferreira Martins ainda é o osboleto.

Sugiro que as pessoas encarregadas da reforma do túnel entrem no site da própria Prefeitura, pois lá encontrarão as informações corretas sobre como ele deve ser. Aproveito o ensejo para também pedir a correção das placas de trânsito em inglês macarrônico, tal como já dito por outros leitores.

Entendo que essas duas ações não devam incidir na contratação de mais funcionários. Caso contrário, por favor, deixem como está.

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Socialismo, "1984" e "Dr. Jivago"

Agora há pouco, me lembrei de uma afirmação de um professor de filosofia que tive no ensino médio: "O conceito de privacidade é produto do capitalismo".

Quanto a essa declaração, eu imagino os seguintes questionamentos:

1- Como pode um sistema econômico, qualquer que seja, criar algo que é inerente à natureza humana? Nossa natureza exige pelo menos um pouco de privacidade em vários tipos de situações.

2- Se esse professor, comuna até a medula, é contra a privacidade, supostamente criada pelo capitalismo, então ele gostaria de viver numa sociedade que, além de socialista, seria uma espécie de "1984", ou seja, sem privacidade nem dentro de casa e até com rastreamento dos pensamentos?

Em suma: esse "1984 comuna" seria um "Dr. Jivago" em dose cavalar!

A inexorável transformação do significado das palavras

Existem vários casos de palavras cujo significado original era um, mas cujo atual é outro. Um exemplo interessante é a palavra "sofisticado", que originalmente significava "pessoa que usa de sofismas", e que hoje em dia é sinônimo de "rebuscado", "chique", "incrementado" etc. Hoje em dia, para falarmos que alguém usa de sofismas, temos que dizer que esse alguém diz coisas sofismáticas ou sofísticas. Se bem que, hoje em dia, a grande maioria das pessoas não sabe o que singifica a palavra "sofisma".

Outro caso igualmente interessante é o do verbo "prejudicar": originalmente, ele significava pré-julgar algo ou alguém, mas hoje em dia é sinônimo de "aviltar" ou "atrapalhar".

Aliás, pouca gente sabe, mas existe o verbo "judicar". O significado é simples: assim como o advogado "advoga", o juiz "judica".

O termo "fissura", que originalmente significava "rachadura", teve seu significado alterado pela geração de meus pais. Desde os anos 60, quando as pessoas dizem, por exemplo, que alguém está "fissurado" em outro alguém, o que se quer dizer é que a pessoa está obcecada, e não rachada, é claro.

Existe um outro adjetivo cujo significado foi alterado, pelo menos na fala coloquial: "embassado". Hoje em dia, algo embassado é algo difícil de fazer, por exemplo. Para mim, quando não consigo ver através de uma janela, ela continua "embassada", malgrado as traquinagens da "galera" da minha época. Aliás, a geração de meus pais substituiu o significado original da palavra "galera" - navio de guerra - pela idéia de "grupo de jovens".

Enfim, são tantas as alterações de significados de palavras que esse artigo certamente será o primeiro de muitos, pois trata-se de um fenômeno fascinante, inexorável, eterno e que acontece com qualquer língua.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Estudo de caso: Uma extravagância chamada esperanto

Desde criança eu já tinha uma idéia do que vinha a ser o esperanto. Porém, só há alguns anos eu conheci o assim chamado movimento esperantista, presente em dezenas de países e que reúne milhares de excêntricos que têm por objetivo intrinsecamente utópico transformar o esperanto na língua global do futuro. Vou explicar a questão do esperanto por etapas:

1- Invenção: em 1887, o judeu-polaco Lazarus Ludwig Zamenhof criou a língua a partir de uma salada mista de dezenas de línguas, pois Zamenhof era um exímio poliglota. Cerca de 70% da gramática do esperanto é baseada no latim e o alfabeto empregado é o latino, pois, em seus estudos, Zamenhof constatou que a maioria das línguas existentes no mundo emprega esse alfabeto. Além disso, a base principal do próprio vocabulário é o latim. Aliás, cabe fazer uma retificação aqui: apesar do que a grande maioria das pessoas pensa, a proposta esperantista não é eliminar todas as línguas que há no mundo e impor o esperanto, e sim transformá-lo na língua neutra global, permitindo que cada povo mantenha a sua própria língua. Inclusive, o próprio lema do movimento esperantista, cunhado por Zamenhof, é: "Para cada povo, a sua língua; para todos os povos, o esperanto." Faço questão de esclarecer esse detalhe sem entrar no mérito, mas apenas por uma questão de justiça.

2- Divulgação: em 26 de julho desse mesmo ano, Zamenhof lançou o primeiro livro de regras do esperanto. O livro era escrito em russo. Aliás, eis aqui uma curiosidade: como Zamenhof era judeu e polaco, motivo de dupla discriminação, ele lançou o livro sob o pseudônimo "Doktoro Esperanto", que significa "Doutor Esperançoso". Assim sendo, o livro e, conseqüentemente, a língua, foram bem aceitos pelo público, cuja grande maioria não sabia das origens do autor.

Em 1905, foi realizado, numa cidade do interior da França, o primeiro congresso de esperanto, que reuniu quase mil pessoas de várias nacionalidades, as quais trataram de divulgar a língua em seus países.

3- Movimento: vários clubes de esperanto foram sendo criados em vários países, começando no Brasil por Campinas em 1906, mas as duas guerras mundiais emperraram o movimento. Inclusive, na II Guerra Mundial, Hitler perseguiu e matou muitos esperantistas na Alemanha e nos territórios ocupados pelo III Reich; Stalin fez o mesmo na União Soviética. A família de Zamenhof foi dizimada. No Japão e na China, também houve perseguição e matança.

Várias organizações tentaram - e continuam tentando - dar um empurrãozinho para ver se o esperanto decola. Em 1954, a ONU, por exemplo, através da UNESCO, passou a apoiar oficialmente a causa esperantista. Mais recentemente, com o advento da internet, o esperanto pôde ser divulgado globalmente de maneira rápida, fácil e barata. Porém, a bem da verdade, a internet foi justamente a mídia que deu ao esperanto o seu merecido status de extravagância de sonhadores totalmente alheios à realidade do mundo, que é pura e simplesmente a seguinte: sempre houve e sempre haverá uma língua global imposta por uma nação. Há 2 mil anos, quem não falasse latim estava por fora. Hoje em dia, quem não fala inglês perde, só por isso, uma miríade de oportunidades preciosas no mercado de trabalho.

4- Peculiaridades: por ser utópico, o movimento esperantista acaba atraindo gente de outras causas quiméricas. Eu tive contato direto com o movimento esperantista e posso afirmar que a maioria dos esperantistas têm relação direta ou indireta com os seguintes movimentos: socialismo, comunismo, anarquismo, vegetarianismo, veganismo, pacifismo, espiritismo etc. Aliás, quanto a esse último, convém relatar que o movimento esperantista brasileiro é tão ligado ao movimento espírita que muita gente tem a falsa idéia de que "o esperanto é uma língua espírita". O próprio espiritismo, que, na sua vertente kardecista, é um fenômeno local restrito ao Brasil, acaba fazendo com que pessoas mal-informadas de outras religiões não queiram aprender esperanto justamente por achar que se trata de uma "língua espírita". Novamente, não estou entrando no mérito, mas apenas fazendo essa outra retificação também por uma questão de justiça.

Existe uma outra corrente de pensamento que é seguida pela grande maioria dos esperantistas: o anti-americanismo. O motivo é óbvio: uma vez que os Estados Unidos são a nação que, devido à sua hegemonia, impõe a língua global atual, os esperantistas costumam atacar ferozmente a nação americana e, por decorrência, a língua inglesa, numa demonstração clara de fraqueza, pois, como se diz no mundo dos negócios: "Se o seu produto funciona, você não precisa ´meter o pau´ na concorrência".

5- Conclusão: o esperanto e o movimento esperantista como um todo são pura perda de tempo. Se você tem facilidade e/ou necessidade de aprender línguas, aprenda inglês e outras línguas do mundo real, pois, como eu já disse anteriormente, sempre houve e sempre haverá uma língua global imposta por uma nação, não obstante a importância, ainda que menor, das línguas secundárias, como é atualmente o espanhol.

quinta-feira, dezembro 04, 2008

A extravagância ortográfica do português brasileiro

Diferentemente de línguas como o espanhol, que possui, graças ao comando da Real Academia, unidade ortográfica absoluta, não obstante a grande quantidade de países hispanófonos, a língua portuguesa tem duas ortografias oficiais: a portuguesa e a brasileira. E pior: a última reforma ortográfica tupiniquim, cujas novas regras já estão em vigor, foi assinada por Lula. Isso equivale a pedir que Maguila aprove regras determinadas num congresso de astrofísica.

Eu ainda hei de descobrir o motivo pelo qual a unificação ortográfica não dá certo na comunidade lusófona. Porém, já lanço de cara o seguinte questionamento: será que o Brasil não consegue resolver os problemas relativos à ortografia porque, dentre outros motivos, a grande maioria dos brasileiros não sabe o que significa a própria palavra "ortografia"? Pode ser, não é mesmo?

Voltando ao assunto da norma ortográfica em si, o estrangeirismo imbroglio, originário do italiano, deve ser escrito, de acordo com o Dicionário Houaiss, da seguinte maneira: imbróglio. A nacionalização da grafia dessa palavra é capenga e perigosa, pois a grande maioria dos nossos compatriotas, que mal fala português, não tem a menor idéia de que o dígrafo gl, típico da língua italiana, tem o mesmo som do dígrafo lh, típico, por sua vez, da língua de Camões. Assim sendo, 90% dos leitores da palavra imbróglio a lerão exatamente assim, e não como deve ser lida: imbrolho, inclusive sem esse acento agudo intrometido. Portanto, por que não se muda a grafia dessa palavra para imbrolho, sendo que, dessa maneira, todo mundo a lerá corretamente? Talvez, isso seja assim justamente porque quem assinou a última reforma foi Lula. Logo, está armado o imbroglio, ou seja, está armada a confusão.