terça-feira, maio 27, 2008

Datena não é do ramo!

Ontem à noite, assisti na TV Bandeirantes a uma entrevista concedida por José Luiz Datena a um repórter, colega de emissora, em que o rapaz lhe fez uma pergunta bem simples: "Você é a favor da pena de morte?" Existem apenas 3 respostas possíveis para essa pergunta: "Sim.", "Não.", ou "Não tenho opinião formada." Porém, dessa vez Datena se superou, pois disse que é contra e, logo na frase seguinte, se contradisse, falando a seguinte besteira: "Na China, a pena de morte é aplicada para políticos corruptos. Eu sou a favor, pois acho que político ladrão tem que morrer".

A respeito dessa declaração de Datena, eu tenho duas coisas a dizer:

1- Que eu saiba, Datena é formado em jornalismo, mas sua resposta a essa pergunta demonstra que ele conserva, depois de 120 anos de carreira, um cacoete mental que todo e qualquer estudante de jornalismo tem o dever de consertar no primeiro semestre de curso: quando alguém lhe faz uma pergunta simples e objetiva sobre um assunto que é uma questão de opinião, você não pode dizer uma coisa e, logo na frase seguinte, dizer o contrário, pois quando você faz isso, você quebra o seu próprio argumento. Será que esse "homem de imprensa" não aprendeu isso até agora?

2- Datena citou a China como exemplo de um país onde a pena de morte é aplicada a políticos corruptos. Porém, a bem da verdade, o que existe na China, que muitos desinformados chamam de "indústria da pena de morte", não passa de uma indústria de execuções arbitrárias de cidadãos meramente suspeitos de cometerem inúmeros tipos de crimes, da corrupção ao assassinato. Lá, os processos duram, em média, apenas algumas semanas e os supostos culpados são fuzilados a toque de caixa. Afinal, não devemos nos esquecer jamais de que apesar de a China ter aberto sua economia, seu regime político continua sendo uma ditadura genocida governada pelos generais do Partido Comunista. Lá, o Poder Judiciário é subordinado ao Partidão e a imprensa, tanto nacional quanto estrangeira, é violentamente censurada. Aliás, o governo chinês controla até a internet. Por outro lado, Datena não mencionou países democráticos, tais como os Estados Unidos, onde os Estados que aplicam a pena de morte (quase todos) seguem à risca o chamado due process of law, isto é, os suspeitos são submetidos a investigações minuciosas que duram anos, além, é claro, do tribunal do júri. Assim sendo, os réus só são condenados à morte após a apresentação de provas cabais da culpa deles.

Mais uma vez, Datena confirma que não é do ramo. Aliás, é bom lembrar que Datena é um repórter esportivo que caiu de pára-quedas na crônica policial. Há alguns anos, Datena afirmou que o projeto "Tolerância Zero", implantado em Nova York pelo então prefeito Rudolph Giuliani, foi instituído para matar negros, latinos e mendigos. Um jornalista policial de verdade não tem o direito de falar uma besteira como essa. Porém, em vez de falar a verdade, isto é, que o "Tolerância Zero" foi implantado para matar bandidos, Datena preferiu vociferar esse velho clichê anti-americano de que os policiais americanos operam um extermínio silencioso das minorias.

É uma heresia admitir Datena como repórter policial e incluí-lo na mesma classe profissional de lendas vivas como Luiz Carlos Alborghetti, por exemplo. O programa de Datena, "Brasil Urgente", está a léguas de distância de programas policiais verdadeiros, tais como o lendário "Cadeia", pois é apresentado por um sujeito que, de uma vez por todas, não é do ramo!