sexta-feira, novembro 28, 2008

Os profetas do apocalipse

Dentro da espécie humana, existe uma raça conhecida como "os profetas do apocalipse": são pessoas que, além de pessimistas, não têm a menor esperança em hipótese alguma. Quando algo está bom, elas acham que vai ficar ruim, e quando algo está ruim, elas acham que vai ficar pior. Para elas, nunca há escapatória, pois o raciocínio delas é intrinsecamente escatológico.

Hoje de manhã, tive um flashback da minha infância: eu estava no ginásio e a professora de geografia disse: "O mundo está ficando cada vez mais informatizado; num futuro próximo, as máquinas tomarão o lugar do ser humano em tudo, condenando milhões de pessoas a morrer de fome. Hoje em dia, se uma simples costureira não souber mexer no computador, ela morre de fome, pois para gerir as receitas e as despesas do seu serviço, ela tem que montar uma planilha no Excel".

Quanto a essa declaração dessa ilustre propedeuta, tenho 3 argumentos para contestá-la:

1- A professora está sendo preconceituosa, pois está partindo do pressuposto de que nenhuma pessoa idosa consegue aprender a mexer no computador, o que não é verdade, pois muitos idosos o fazem perfeitamente.

2- Se, por uma acaso, essa idosa costureira não conseguir aprender a mexer no computador, ela pode contratar alguém para fazer isso, não é mesmo?

3- Na pior das hipóteses, a tal costureira pode continuar gerindo seus negócios como sempre o fez: na ponta do lápis, com uma simples caderneta. Por que não? Por que diabos uma costureira tem que fazer isso no computador? Ela é obrigada, por acaso? Um pipoqueiro também? Um pasteleiro também? Um vendedor de churros, de algodão-doce, de picolés etc. também?

Eu tenho a nítida impressão de que as únicas pessoas que vão ficar do lado dessa professora são pessoas que também pertencem a essa raça mencionada no início do texto. Você pode até reclamar desse texto, mas como diria Chico Anysio: "Só reclama de Tim Tones quem é Tim Tones".

segunda-feira, novembro 24, 2008

Qual deve ser o requisito para exercer o jornalismo? O diploma ou a vocação?

Em 2005, o deputado federal paulista Celso Russomanno apresentou o Projeto de Lei 5253, que cria (ou pretende criar) a OJB - Ordem dos Jornalistas do Brasil, com o objetivo claro e manifesto de regulamentar rigidamente a profissão de jornalista e impedir o exercício do jornalismo por parte de pessoas sem diploma. Quanto a isso, faço os seguintes questionamentos:

1- Através da OJB, o deputado Russomanno pretende meter na cadeia todas as pessoas que atuam na imprensa e que não têm diploma, igualando-as a quem comete o crime de exercício ilegal da medicina, por exemplo. Isso não significaria, na prática, a criação de uma reserva de mercado equivalente àquela que é gerada pelo crivo do exame da OAB?

2- Os fotógrafos e os cinegrafistas são tão jornalistas quanto os repórteres e os editores, mas poucos deles têm diploma de jornalismo. A OJB vai impedi-los de atuarem na imprensa e metê-los na cadeia em caso de exercício ilegal da profissão?

3- Nada impede as pessoas de criarem, num par de cliques, órgãos de imprensa na internet, tais como sites, blogs, jornais, revistas, rádios, TVs etc., e chamarem pessoas sem diploma de jornalismo para atuarem como repórteres, editores, fotógrafos, cinegrafistas etc. Qual seria a atitude da OJB para com a "imprensa virtual"? Regulamentação? Fiscalização? Cadeia para quem não tem diploma? Que mais? Pelo que me parece, o deputado Russomanno se esqueceu desse gigantesco detalhe, até porque o seu Projeto de Lei não fala absolutamente nada sobre o exercício do jornalismo na internet.

Eu poderia levantar outros questionamentos, mas por ora já basta para iniciar o debate. Qual a sua opinião?

A força destrutiva da propaganda enganosa

Certa vez, um amigo meu comentou que estava num shopping com um compadre que queria fazer uma compra numa certa loja. Ele contou que pouco antes de eles chegarem à tal loja, já perto dela, ele foi ao banheiro, e quando voltou, viu seu compadre na rabeira de uma fila tão grande que saía da loja e invadia o corredor. Nesse momento, meu amigo disse: "Isso aqui está parecendo país socialista: uma fila quilométrica para poder ser atendido! Parece aquela fila que se forma em Havana sempre que o governo distribui um sorvetinho num cone de papel-jornal para a população!" Então, uma senhora que era a penúltima pessoa da fila se virou para os dois e disse: "Alto lá! Se isso aqui fosse um país socialista, não haveria filas!" Ao que meu amigo retrucou, com toda razão: "Minha senhora, na verdade, se isso aqui fosse um país socialista, o que não haveria seriam lojas!"

Esse pequeno diálogo entre ele e ela numa fila de shopping demonstra como a propaganda socialista é eficiente, pois ela dá a entender que um país socialista é uma espécie de paraíso terrestre, uma sociedade onde não há filas, tudo é de graça, não há violência, o Estado garante a propriedade privada, as pessoas podem ter empresas, podem ir e vir livremente etc. Porém, a verdade é bem outra: para começo de conversa, numa sociedade socialista, a escova de dentes que está na pia do seu banheiro não é sua. É do Estado. A casa em que você mora não é sua. É do Estado. A vaca que pasta no seu quintal não é sua. É do Estado. Você até poder tomar o leite dela, mas se você a matar, a carne é confiscada pelo Estado. E assim por diante.

A propaganda socialista, tão exaustivamente difundida na grande mídia e nas escolas e universidades, dá a entender que o socialismo nivela as pessoas por cima, isto é, que todos são ricos e simplesmente não há pobres, enquanto que, na verdade, o que ocorre é que o socialismo gera não duas classes, mas duas castas, cujos padrões de vida são infinitamente desiguais: a nomenklatura - termo russo que designa a casta que mama nas tetas do Estado, e os "burros de carga": as pessoas que não são do governo e que trabalham para sustentar o Estado, e que correspondem a 99% da população.

Atualmente, o que mais me preocupa quanto ao socialismo é o seguinte: se por um lado o socialismo como teoria econômica é inviável, por outro lado, o socialismo como regime político é não apenas viável, mas intrinsecamente genocida. Assim sendo, eu pergunto a mim e a você: quantos milhões de pessoas inocentes, famintas e desarmadas serão exterminadas na próxima tentativa de implantação da pseudo-panacéia socialista?

quinta-feira, novembro 13, 2008

O conceito de gorjeta

Desde que eu me entendo por gente, sempre achei estranho esse negócio de gorjeta obrigatória (geralmente uns 10% sobre a conta). Recentemente, descobri o motivo pelo qual eu sempre estranhei isso, pois finalmente entendi o conceito de gorjeta.

Pode parecer até absurdo, mas todas as dezenas de pessoas com quem já falei sobre isso não conheciam o conceito de gorjeta, até porque se o conhecessem teriam concordado com o meu argumento contra essa aberração.

Vamos ao cerne da questão: a gorjeta nada mais é do que uma gratificação que você dá, por sua livre e espontânea vontade, pelo bom atendimento do garçom, pela boa comida, pelo ambiente agradável, pelo banheiro limpo, pela simpatia do maître etc. Se você concorda com tal conceito, você tem, por uma questão de coerência, que discordar desse acréscimo arbitrário de uma porcentagem sobre a conta. A razão é muito simples: e se você for mal atendido? E se a comida for ou estiver ruim? E se o maître tratá-lo(a) mal? E se o banheiro for pior que o de uma rodoviária? Você vai querer dar gorjeta? Claro que não, não é mesmo? Agora, imagine passar por tudo isso e ainda ser obrigado a pagar gorjeta porque um político que gosta de fazer caridade com o dinheiro alheio resolveu impô-la por lei?

A gorjeta obrigatória nada mais é do que uma sobretaxa acrescida à conta, e pior: criada por um deputado ou senador que come às suas custas com cartão corporativo. Aliás, se você consultar o Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, da Editora Melhoramentos, você lerá que a própria definição da palavra "gorjeta" classifica o termo como uma "retribuição por um serviço extraordinário" (fonte: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=gratificação). Portanto, se você, depois de tudo o que eu já lhe expliquei, ainda acha bonito ser obrigado a pagar gorjeta, é um direito que lhe assiste, mas então, de agora em diante, faça-me o favor de pagar a minha conta.