sexta-feira, abril 24, 2009

Estados Unidos, Sampa e Roma Antiga

Certa vez, há alguns anos, eu conheci um homem que mora aqui em Santos e que, por ser americano, dá aulas de inglês com uma autoridade muito maior do que qualquer brasileiro que possua um diploma de letras. Num dado momento da conversa, ele me disse: "Se eu tivesse dinheiro suficiente para levar meus alunos aos Estados Unidos, eu jamais os levaria à Disney World, pois isso não é Estados Unidos." Ele me explicou que não tem nada contra a Disney World e que inclusive já a visitou, mas, por outro lado, ele disse algo que, apesar de óbvio, a grande maioria dos brasileiros não consegue entender: um parque de diversões não é uma representação fiel da realidade de um país. Assim sendo, esse americano me disse que, se tivesse dinheiro suficiente, levaria seus alunos para conhecerem os Estados Unidos de fato, do lado de fora de quaisquer parques temáticos.

Um parque de diversões é, por definição, um ambiente lúdico e fantasioso, um reduto de faz-de-conta que não pode ser usado como referência para julgarmos a cidade e muito menos o país em que ele se situa.

Vamos imaginar o seguinte caso: um brasileiro que nunca esteve na cidade de São Paulo participa de uma excursão e passa um dia no Play Center. No dia seguinte, esse cidadão volta para sua cidade, fique ela em São Paulo ou em outro Estado, batendo no peito e bradando: "Eu conheci São Paulo!" Ledo engano! O Play Center é apenas e tão-somente um parque de diversões, e como tal, não é uma representação fiel da cidade de São Paulo. Quem quer conhecer São Paulo de fato tem que ficar do lado de fora do Play Center e visitar a cidade propriamente dita.

Eu, que nunca fui ao Play Center, não tenho autoridade para dizer que a cidade de São Paulo é assim ou assado, pois, apesar de já ter ido inúmeras vezes à capital, conheço apenas alguns lugares específicos da cidade, ou seja, recortes esparsos de sua realidade, sociedade, arquitetura, trânsito, logradouros, gastronomia etc.

Imagine a seguinte situação: um homem que viveu no tempo da Roma Antiga e que nunca tinha ido a Roma, um belo dia visitou a cidade e entrou direto no Coliseu. A impressão que ele teria de Roma e até do Império como um todo seria a pior possível. Se esse homem tivesse a mesma mentalidade da grande maioria dos brasileiros, certamente voltaria à sua aldeia dizendo: "Lá em Roma, os seguidores de uma seita perseguida chamada cristianismo são jogados aos leões, sob aplausos e demais ovações do povo e dos senadores; guerreiros se digladiam até a morte no fio da espada e às vezes até a cavalo ou a bordo de bigas! Roma é uma barbárie!" Porém, mal sabia esse homem que o Coliseu era uma espécie de parque de diversões primitivo que, não obstante a indiscutível barbárie, jamais poderia ser usado como representação fiel da cidade e nem do Império em que ele se situava.

Entendeu o conceito?