quinta-feira, junho 18, 2009

Abraão e a fé absoluta

O que pode ser pior para um pai do que matar seu próprio filho? Você teria coragem de fazer isso, mesmo se o próprio Deus lhe ordenasse?

Há cerca de 4 mil anos, um grande homem passou por esse teste de Deus e logrou êxito. Esse homem foi Abraão, o introdutor do monoteísmo, isto é, da crença no Deus único de Moisés, Jesus e Maomé.

No Livro de Gênesis, lemos que devido à dificuldade de Abraão ter filhos com sua esposa Sara, ele resolveu ter um filho com sua serva egípcia Hagar. Abraão deu-lhe o nome de Ismael. Depois disso, quando Abraão já estava com cerca de 100 anos de idade, sua esposa Sara conseguiu ter um filho, e Deus ordenou que Abraão enviasse Hagar e Ismael ao Vale de Becá, ao sul. Ismael instalou-se lá e deu origem ao povo árabe, enquanto que, mais tarde, Isaque deu origem ao povo judeu.

Assim sendo, Isaque tornou-se o único filho que Abraão tinha consigo, e como Ismael tinha ido embora para cumprir sua missão, Isaque tornou-se o filho único de Abraão na prática.

Mais adiante, no Capítulo 22 do mesmo Livro de Gênesis, lemos que Deus, para testar a fé de Abraão Nele, deu-lhe a seguinte ordem: "Leve Isaque com você e ofereça-o em sacrifício no topo do Monte Moriá, que fica perto de Salém."

Depois de 3 dias de viagem a partir de Berseba, Abraão avistou o local e subiu ao monte indicado por Deus levando Isaque consigo. Porém, quando empunhou a faca e ergueu a mão para matar seu filho, Abraão foi impedido pelo Anjo do Senhor, que lhe mostrou, atrás dele, um carneiro, cujos chifres estavam presos a um arbusto, para que Abraão o matasse e o oferecesse a Deus em lugar de seu filho.

Essa história de Abraão, a mais linda que já li do Velho Testamento até agora, pode ser interpretada da seguinte maneira: quantas vezes Deus nos testa com provações infinitamente mais leves (ou menos pesadas) e nós, achando-nos injustiçados, reclamamos da suposta severidade Dele? Qual o limite da fé de cada um de nós? Até que ponto cremos realmente Naquele que nos criou?

A resposta me parece ser a seguinte: Deus só testa quem Ele sabe que pode ser testado, pois como Ele nos criou, Ele nos conhece por completo. Ele nos conhece desde antes da nossa existência, pois Ele é anterior à existência não apenas de cada um de nós, mas de tudo.

Deus é onipotente, isto é, pode tudo, mas não nos impede de fazermos o que quisermos, mesmo que desobedeçamos a vontade Dele, O neguemos ou usemos Seu nome em vão. Essa é a dádiva divina do livre-arbítrio.

Deus está em tudo e em todos os lugares ao mesmo tempo, mas não o vemos porque nós mesmos somos a materialização do Seu verbo, criador dos seres e das coisas do mundo e do universo. Esse é o dom divino da onipresença.

Deus sabe tudo o que cada um de nós faz e pensa; Ele conhece todos os nossos defeitos, virtudes, sonhos, sentimentos, medos, sofrimentos, alegrias, angústias, sucessos, fracassos etc. Ele sabe o dia e a hora em que cada um de nós vai nascer e morrer. Ele sabe o que cada um de nós vai fazer e dizer. Esse é o dom divino da onisciência.

Aos que tentam se igualar a Ele, ele os pune não por ciúme, mas por piedade, para mostrar a eles que todos temos o nosso lugar, mas que o lugar Dele não é de nenhum de nós, mas apenas Dele, pois Ele é anterior, simultâneo e, no fim dos tempos, será posterior a todos nós. Aos que crêem que O representam entre nós, Ele sabe muito bem quem o faz de boa-fé para ajudar o próximo e quem o faz de má-fé para se aproveitar da credulidade alheia.

Sempre que nos defrontarmos com alguma provação divina, lembremo-nos de Abraão, pois se o grau da nossa fé chegar ao menos perto da fé de Abraão, tudo poderemos Naquele que nos fortalece.

terça-feira, junho 16, 2009

O país dos "voluntários convocados"

Anteontem, eu e meu pai estávamos viajando pela estrada rumo a Key West, no extremo sul da Flórida e a apenas 90 milhas de Cuba, e ouvindo a Radio Reloj (Radio Relógio) AM 860, uma emissora de Havana que pode ser claramente ouvida naquela região. O programa em questão era um noticiário, cujas reportagens eram exaustivamente repetidas, sobre ações do governo cubano nas mais diversas áreas. Até aí, nada demais, exceto por um termo que constava de uma das notícias lidas pela locutora:

"Devido à crise mundial, o governo inaugurou um programa de economia de energia através do controle do consumo com a ajuda de voluntários convocados (sic)."

Existem situações que são tão paradoxais que qualquer tentativa de eufemismo acaba resultando num ato falho que revela o absurdo dos fatos em questão de maneira acintosa. Eis as meias-verdades acima expostas:

1- A bem da verdade, a economia cubana está em crise desde o tempo da própria Revolução Cubana, quando Che Guevara foi nomeado Ministro do Açúcar, principal produto cubano, e conseguiu a façanha de quebrar o Ministério em apenas 3 meses. Portanto, Cuba está em crise desde então, enquanto que a crise mundial começou apenas em outubro do ano passado e já dá sinais de recuperação praticamente no mundo inteiro. Aliás, convém esclarecer que o tão famoso embargo econômico imposto a Cuba é exclusivo dos Estados Unidos, pois Cuba faz negócios com todo o resto do mundo.

2- O programa em questão não é de economia, e sim de racionamento de energia, com apagões propositais planejados pelo governo em todo o território cubano exceto no balneário de Varadero e na orla de Havana, onde ficam os hotéis internacionais, nos quais os cidadãos cubanos que não trabalham neles não podem nem entrar.

3- Um voluntário é, por definição, uma pessoa que faz algo porque quer fazê-lo, e não por convocação.

Segundo a novilíngua do governo cubano, pode-se dizer até que Cuba não é uma ditadura, mas apenas um regime de exceção – afinal de contas, democracia com exceção de liberdade é regime de exceção, não é mesmo?