segunda-feira, junho 16, 2008

Uma questão de demanda - II

Agora há pouco, me lembrei do desabafo histérico de um professor de história que tive no colegial. Vamos analisar a fala dele:

"Esse país está uma merda! Se eu quiser saúde de qualidade, tenho que pagar! Se eu quiser educação de qualidade, tenho que pagar! (...) Às vezes, me dá vontade de juntar todos os mendigos que estão morrendo de fome na rua e invadir o Pão de Açúcar, pois o Abílio Diniz já está rico demais! E ele não paga imposto! Quem paga imposto sou eu, que sou pobre!"

Infelizmente, não existe almoço grátis. Apesar de pagarmos impostos pesadíssimos, o Estado não nos dá nem saúde nem educação de qualidade. C´est la vie. Portanto, a iniciativa privada simplesmente atende à demanda por saúde e educação de boa qualidade. Hoje e sempre.

Porém, o que me parece ridículo é o fato de que esse professor acredita, em sã consciência, que a culpa pela má qualidade dos serviços públicos é da iniciativa privada, isto é, uma vez que a saúde e a educação públicas são ruins, ele afirma categoricamente que a culpa é dos empresários, e não do próprio Estado. Em poucas frases, ele demonstrou que tem inveja da riqueza que Abílio Diniz conquistou com o suor de sua testa e, não contente, ainda o acusou de ser sonegador.

Realmente, a crença de que o Estado é um bom empresário é, para muita gente, um verdadeiro artigo de fé. É a seita do deus Estado. Isso sem falar da crença de que o empresário é um predador da sociedade ou, em outras palavras, um delinqüente tolerável.

Uma questão de demanda

Hoje, ao acessar o site da UNIP, me lembrei dos comentários de uma professora de geografia que tive no colegial que, por ser petista de carteirinha (literalmente), disse, no ano 2000, que se Lula fosse eleito, o PT melhoraria o ensino público, enquanto que FHC não fazia isso porque um dos maiores financiadores de suas campanhas era João Carlos di Genio, dono da Escola Objetivo e da Universidade Paulista - UNIP. Segundo ela, di Genio era, junto com o tucanato, um dos grandes culpados pela má qualidade do sistema público de ensino.

Porém, a bem da verdade, essa professora inverteu propositalmente a relação entre causa e efeito, pois se o ensino público fosse bom, não haveria demanda por escolas privadas. Assim sendo, di Genio não é causador da má qualidade do ensino público, e sim um empreendedor que é bem-sucedido justamente por oferecer algo que o Estado brasileiro não tem: ensino de boa qualidade por preços acessíveis à classe média.

domingo, junho 01, 2008

Um paradoxo tão elementar quanto monstruoso

Há um tempo atrás, vi no YouTube um vídeo que mostrava trechos do último debate do primeiro turno dos candidatos à presidência em 1989. Nesse vídeo, um dos trechos tinha a seguinte legenda: "Pena de morte resolve?", e um comentário veemente de Roberto Freire, que na época era candidato pelo PCdoB. Eis a fala de Freire com suas próprias palavras:

"Em nenhum país em que se aplicou a pena de morte a criminalidade diminuiu. Aliás, devido ao agravamento das penas, essas sociedades acabaram incentivando a violência."

Quanto a essas palavras de Roberto Freire, tenho dois comentários a fazer:

1- Em países como o Brasil, o debate sobre a pena de morte já está, desde há muito, totalmente moldado pelas pessoas e instituições que são contra. Como já disse num texto anterior, existe um princípio elementar da estratégia militar que ensina que não se deve combater o inimigo num terreno que seja favorável a ele. Assim sendo, vamos trazer o debate para um terreno neutro e dizer o seguinte: a pena de morte não é a solução para acabar com a violência. A bem da verdade, ela é, isto sim, um procedimento jurídico através do qual o Estado elimina os predadores da sociedade, tais como assassinos, estupradores, pedófilos, seqüestradores, traficantes, latrocidas*, guerrilheiros, terroristas etc. Eu sou a favor porque, dentre outros motivos, os detratores da pena de morte não são capazes de apontar a solução para acabar com a violência e, muitas vezes, acabam apelando, como foi o caso de Roberto Freire, para argumentos pateticamente contraditórios para confundir a opinião pública. Ou, por acaso, você acha, em sã consciência, que a pena de morte é um estímulo para que os bandidos cometam crimes cada vez mais graves? Dizer que ela não resolve é verdade, mas dizer que ela incentiva a criminalidade é um truque argumentativo ardiloso.

2- Na época em que Roberto Freire disse isso, ele era do PCdoB - Partido Comunista do Brasil, mais conhecido como "Partidão". Você deve saber que o Partido Comunista do Brasil é uma seção de um partido internacional, cuja matriz é o ainda existente Partido Comunista da Rússia e cuja seção da China continua governando aquele país tal como uma típica ditadura comunista, nada importando a sua abertura econômica. Eu mencionei os "Partidões" da Rússia e da China de propósito, por um motivo muito simples: naquela ocasião, Roberto Freire era porta-voz de um partido internacional que, tanto na então União Soviética quanto na China, exterminou mais de 100 milhões de civis inocentes e desarmados, matando muitos deles literalmente de fome. O que quero dizer com isso é tão elementar quanto monstruoso: esse homem que, no supracitado debate, vociferou contra a pena de morte para bandidos cruéis que cometem crimes hediondos era, simultaneamente, o porta-voz brasileiro do partido internacional cujo regime cometeu o maior genocídio da história da humanidade.

Você já conseguiu perceber o paradoxo ou eu preciso explicar melhor?

*O termo "latrocida" não consta da norma culta da língua portuguesa, mas tomei a liberdade de usá-lo para designar claramente os bandidos que cometem o crime de latrocínio.