domingo, janeiro 20, 2008

Não se melhora um país por decreto!

Há algum tempo, adicionei uma pessoa por engano no meu MSN e a mensagem de apresentação dela era no mínimo interessante: "Vamos proclamar um país mais justo!".

Depois de um certo tempo, consultei um dicionário para verificar os significados do verbo "proclamar". Seus sinônimos são: declarar, anunciar, afirmar, publicar e, por fim, decretar. Esse último significado é o que vem à minha mente quando alguém fala sobre a proclamação de algo. Assim sendo, isso me leva a pensar: será que essa pessoa acredita que é possível melhorar um país por decreto?

O que faz um país melhorar e ficar mais justo, por exemplo, são coisas como: crescimento econômico, desenvolvimento tecnológico, saúde, educação, segurança pública, justiça eficiente, arte, cultura, ação política etc. Porém, nós devemos lutar para tornar tudo isso realidade através da ação concreta, e não do formalismo legislativo.

Toda lei que não combina com a atitude e com a mentalidade do povo torna-se letra morta, ou melhor, letra natimorta, pois morre assim que é promulgada. Apesar de o império da lei ser indispensável para o progresso da sociedade, ninguém deve ficar esperando que boas leis sejam promulgadas para mudar de atitude e passar a ter uma boa conduta.

Não se melhora um país por decreto, mas pela ação prática de cada um de nós.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Debate pré-moldado

Um princípio elementar da estratégia militar ensina que não se deve combater o inimigo num terreno que seja favorável a ele. Esse princípio bélico pode se aplicar a uma situação de debate, por exemplo.

Um caso típico em que essa premissa tem que ser usada, para o bem da sociedade, é o debate acerca do assalto ao apresentador televisivo Luciano Huck: no ano passado, deparei-me, na casa de uma amiga, com uma edição da revista Época cuja capa mostrava uma foto de Luciano com a boca tapada e a seguinte pergunta: "Ele mereceu ser roubado?"

Não consegui abrir a revista para ler a matéria da capa, pois fiquei com nojo da pergunta, através da qual pude constatar que quem quer que a tenha concebido estava espumando de inveja, pois Huck é um cidadão famoso e rico.

Muitos pensamentos vieram à minha cabeça desde que vi essa capa de revista. Um deles foi o seguinte: será que quando uma celebridade rica for vítima de um latrocínio, por exemplo, a imprensa vai se perguntar se ela mereceu ser assassinada? Desde quando uma discussão nesses termos é aceitável? Outro pensamento foi o seguinte: se Luciano Huck está sendo tratado dessa maneira mesmo tendo toda uma preocupação social, o que a imprensa diria se ele não fizesse nenhum trabalho filantrópico? Do jeito como o Brasil está, a revista Época seria capaz de trocar o ponto de interrogação pelo ponto de exclamação, e a manchete sairia assim: "Ele mereceu ser roubado!"

Eu jamais aceitaria debater com alguém que partisse do princípio de que quem é rico merece ser roubado, mesmo que o interlocutor não afirmasse isso de maneira explícita. Aceitar um debate nesses termos seria combater o inimigo no campo dele e cair numa cilada, pois um debate assim está claramente pré-moldado, e isso gera uma relação de assimetria entre os debatedores, a qual sempre favorece o debatedor desonesto.

Nunca se deve aceitar uma discussão polida com pessoas e instituições cuja pretensão seja destruir os valores morais da sociedade. Não existem ricos porque existem pobres, e nem vice-versa. Além disso, a conta bancária de cada cidadão não tem nada a ver com os seus direitos, dentre eles a segurança pública. Tais coisas estão em planos diferentes.

Ninguém merece ser assaltado ou assassinado por um assaltante, independente do seu bolso. Esse tipo de discussão, em que os ricos são considerados exploradores da sociedade e os bandidos são tratados como "justiceiros sociais", não é aceitável em hipótese alguma.