domingo, maio 14, 2006

O ato de blogar

Este é o meu primeiro blog pessoal. Já tive outros blogs, mas ainda não havia percebido que, modéstia à parte, eu tenho muito futuro como cronista. Os blogs são um tipo revolucionário de sites, uma vez que eles permitem uma fácil escrita e uma rápida publicação dos textos que nós "blogueiros" produzimos. O blog é uma ferramenta multi-facetada, que pode ser usada como diário, informe, jornal, revista e até livro. Conheço um jornalista que publicou um de seus livros em posts no seu blog. O detalhe mais interessante sobre o blog é o fato de que ele, muitas vezes, acaba substituindo os sites tradicionais, pois não faz muito sentido complicar-se todo para criar páginas e publicar textos quando se tem uma ferramenta tão prática como o blog.

Além disso, há muitos jornalistas que transformaram seus blogs pessoais em verdadeiras centrais de notícias. Por outro lado, há também anônimos que acabam se revelando grandes escritores. A facilidade de publicar textos via internet vem promovendo uma grande democratização não só do acesso à informação, como também da sua produção, publicação e divulgação.

Em suma, o ato de blogar não se resume a uma verborragia datilográfica, como muitas pessoas insistem em afirmar. Blogar é, antes de tudo, produzir informação. Quanto à qualidade e à utilidade desta, cabe a cada um de nós discernir sobre os textos que nos são apresentados. Tudo é uma questão de responsabilidade e senso crítico.

sábado, maio 13, 2006

O ato de traduzir

Ser poliglota é um orgulho, além de ser um diferencial importante para conquistar espaços no mercado de trabalho. Hoje em dia, apesar de toda a tecnologia, o mais importante diferencial continua sendo a comunicação, e quando ela pode ser feita em mais de uma língua, melhor ainda. Lembro-me de que há 11 anos atrás, saí pela primeira vez do Brasil. Meus pais levaram a mim e ao meu irmão para a Disney World. Ficamos nos Estados Unidos, mais especificamente na Flórida, durante 22 dias. Uma coisa de que me lembro e da qual hoje acho graça era a minha angústia, naquela época, em tentar entender o que se falava ao meu redor, principalmente nos parques que visitamos. Em 1995, eu, então com 10 anos, não falava uma palavra de inglês; era monoglota. Às vezes, fico imaginando como deve ser a vida das pessoas que vivem e morrem monoglotas. Minha facilidade em aprender línguas é tamanha que eu, atualmente, tenho muita dificuldade em imaginar isso, pois falo, além do português, inglês, espanhol, francês e italiano. Há algum tempo, tenho começado a perceber o poder que nós poliglotas temos à nossa disposição, poder este que, muitas das vezes, é, no mínimo, sub-utilizado. Nós temos o poder de, por exemplo, promover a concórdia ou a discórdia entre as pessoas. É tudo uma questão de consciência e caráter. Além disso, quando traduzimos os textos ou interpretamos a fala de alguém, nós temos o poder de eliminar as fronteiras lingüísticas entre os povos, algo muito importante, uma vez que a comunicação é o processo social básico; ela é a base da civilização.

Hoje em dia, eu simplesmente não mais consigo me imaginar monoglota. Aliás, convenhamos, a vida dos monoglotas não deve estar lá muito fácil atualmente. A importância de falar pelo menos duas línguas é inconteste no contexto de um mundo globalizado. Viver precisando de intérpretes e tradutores para se comunicar com gente de fora, visitar um país estrangeiro e sentir-se impotente diante de um verdadeiro apartheid lingüístico, deve ser no mínimo angustiante; principalmente em se tratando de pessoas como nós brasileiros, que falamos uma língua relativamente fraca no contexto global, o português. Para os monoglotas brasileiros, o Brasil, que é um país gigantesco, acaba tornando-se o mundo, pois estamos cercados do Oceano Atlântico por um lado e de países de língua espanhola pelo outro. Obviamente, não se pode negar o fato de que falar apenas português não é o mesmo que falar apenas inglês. As línguas do mundo não estão todas no mesmo patamar de importância. Aliás, a distância entre as 10 línguas mais faladas no mundo e as demais é simplesmente abissal.

Os mistérios do sono

Dizia Nélson Rodrigues que "a cama é um móvel metafísico". Concordo plenamente com esta afirmação, pois mesmo as pessoas mais céticas desse mundo hão de admitir que quando dormimos, viajamos, senão astralmente, pelo menos mentalmente. Não há maneira mais fácil de reviver as experiências da vida, inventar histórias e pré-conhecer pessoas e situações do que durante o sono. Aliás, eu vou além de Rodrigues: a cama não é um móvel apenas metafísico, mas também premonitório. Quem de nós já não sonhou com algo que ia acontecer? Geralmente, nós, infelizmente (ou felizmente), não conseguimos alterar o destino, mas há inúmeros casos de pessoas que evitaram maus acontecimentos porque "alguém" ou algo as avisou de um perigo iminente. Eu disse, entre parênteses, "felizmente", por crer que certas coisas acontecem porque, simplesmente, têm que acontecer; aliás, seria perigosíssimo se nós sempre conseguíssemos mudar o curso da História devido a informações recebidas através dos sonhos. Afinal, se todos pudéssemos fazer isso sempre, estaríamos arriscados a transformar as atitudes preventivas posteriores aos sonhos numa espécie de controle social.

Por outro lado, quem já não sonhou com coisas absurdas que nunca se concretizaram? Às vezes, admito, as coisas com as quais sonhamos e que não se concretizam não são absurdas, mas eu acho que seria muito chato um mundo em que as pessoas sempre soubessem o que vai acontecer e pudessem ficar alterando o futuro ao seu bel-prazer. Imaginemos a rotina onírica dos mulherengos: se seus sonhos sempre se concretizassem, a virgindade feminina seria algo mais difícil de encontrar do que os entrevistados do Ibope.

Além de tudo isso, existem pessoas que literalmente sonham acordadas. Se, para as pessoas que sonham apenas quando dormem, a cama é um móvel metafísico, para os "sonhadores conscientes", o cérebro é um órgão psicodélico. Conheço muitas pessoas que sonham acordadas; talvez eu seja uma delas. Porém, uma coisa não se pode negar: o ato de sonhar acordado denota uma imaginação fértil, e quando bem controlado, pode render ótimos frutos. Afinal, o que seria dos grandes empreendedores se eles não sonhassem também durante o dia? Provavelmente, ainda estaríamos lascando pedras para caçar animais selvagens e comendo-os crus.

Por fim, devo dizer que, se as pessoas costumam passar cerca de vinte anos de suas vidas dormindo, eu, que tenho vinte anos, já devo ter dormido, a julgar pelo meu sono, pelo menos uns trinta.

sexta-feira, maio 12, 2006

O ato de escrever

Faz mais de mês que não escrevo, mas o detalhe engraçado desta situação angustiante é que quando menos se espera, eis que surge uma idéia "do nada". Meu processo criativo é bem livre, sem frescuras. Sento-me para escrever e, de repente, começo a digitar e não paro mais. Não sei de onde vem a inspiração, mas uma coisa é certa: a indignação com os erros do mundo, quando controlada, me faz escrever textos, creio, bastante esclarecedores e que contribuem para a vida e o aprimoramento intelectual dos leitores.

O progresso da civilização aconteceu - e continua acontecendo - devido principalmente aos escritores, pois mesmo os maiores oradores da História nada teriam sido e nada teriam feito acontecer se não tivessem o respaldo de bons textos, sejam eles de autores conhecidos ou anônimos. A escrita é a base da civilização moderna, abrangendo todos os campos do conhecimento atual, da religião à política, da cultura ao entretenimento, da informação à arte, e assim por diante.

Outra caracterísitca maravilhosa da escrita é o fato de que ela, quando bem usada, preserva perenemente as verdadeiras idéias, orientações e concepções das pessoas e dos grupos humanos. Mesmo com o advento da revolução digital, a palavra escrita sobrevive, transmutada na forma de sinais eletrônicos nos monitores dos computadores. Ademais, a internet tem feito com que os jovens voltem a se interessar pela escrita, e já há até muitos adolescentes que preferem conversar por texto a conversar por voz. O entusiasmo das novas gerações em relação ao ato de escrever pode ser constatado facilmente através de qualquer estatística sobre a maioria dos usuários dos messengers, das chatrooms e, principalmente, dos chamados "sites de relacionamentos", notadamente o Orkut. Qualquer pessoa minimamente a par das coisas sabe que a grande maioria dos usuários de tais mídias está bem longe da maturidade, o que significa que a palavra escrita tem o seu lugar garantido na sociedade da informação, mesmo apesar de todos os vaticínios pessimistas a respeito de uma suposta decadência quantitativa e qualitativa dos textos dos mais jovens. Porém, estes pessimistas se esquecem de que escrever corretamente não garante o gosto pela escrita - uma coisa não tem nada a ver com a outra. Além disso, não podemos nos esquecer de que as línguas são organismos vivos, logo, estão sujeitas a alterações, o que faz com que, muitas das vezes, o errado de hoje seja o certo de amanhã. Em se tratando de línguas altamente complexas como o português, por exemplo, em que praticamente todas as regras possuem um monte de exceções, não devemos nos espantar se, daqui a 30 anos, falarmos uma língua razoavelmente diferente da atual, mesmo apesar de continuar sendo a mesmíssima língua portuguesa, uma língua que permite vários níveis de discurso, desde o mais erudito até o mais coloquial.

Em suma, escrever é necessário, mas não é preciso.