quarta-feira, dezembro 24, 2008

Confirmação do "Dr. Jivago"

O arquiteto Percival Puggina escreveu o seguinte comentário no seu site pessoal:

VIDA PRIVADA E STALINISMO
Percival Puggina
21/12/2008
Está para ser lançado no Brasil o livro “Sussurros: a vida privada na Rússia de Stalin”, do historiador britânico Orlando Figues, que coletou, para a obra, centenas de histórias narradas pelos sobreviventes do stalinismo. Um dos paradigmas que, segundo ele, nortearam aquelas décadas de agressão à intimidade pessoal foi proposto pelo primeiro Comissário do Povo Soviético para Educação e Cultura, Anatóli Vasilievitch Lunacharski – para quem “a chamada esfera da vida privada não pode nos escapar porque é precisamente aí que o objetivo final da Revolução deve ser atingido”.

Fonte: www.puggina.org


Agora, penso cá comigo: será que o professor sobre quem falei recentemente gostaria de viver nesse "1984 stalinista"? Se ele acha que o conceito de vida privada é produto do capitalismo, será que ele gostaria da evasão de privacidade provocada pelo regime comunista? Tem gosto para tudo, não é mesmo?

Brasão de Santos

Apesar de o Brasão ter sido remodelado pela Lei nº 2.134, de 12 de setembro de 2003, o Brasão que se vê até hoje na entrada do Túnel Rubens Ferreira Martins ainda é o osboleto.

Sugiro que as pessoas encarregadas da reforma do túnel entrem no site da própria Prefeitura, pois lá encontrarão as informações corretas sobre como ele deve ser. Aproveito o ensejo para também pedir a correção das placas de trânsito em inglês macarrônico, tal como já dito por outros leitores.

Entendo que essas duas ações não devam incidir na contratação de mais funcionários. Caso contrário, por favor, deixem como está.

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Socialismo, "1984" e "Dr. Jivago"

Agora há pouco, me lembrei de uma afirmação de um professor de filosofia que tive no ensino médio: "O conceito de privacidade é produto do capitalismo".

Quanto a essa declaração, eu imagino os seguintes questionamentos:

1- Como pode um sistema econômico, qualquer que seja, criar algo que é inerente à natureza humana? Nossa natureza exige pelo menos um pouco de privacidade em vários tipos de situações.

2- Se esse professor, comuna até a medula, é contra a privacidade, supostamente criada pelo capitalismo, então ele gostaria de viver numa sociedade que, além de socialista, seria uma espécie de "1984", ou seja, sem privacidade nem dentro de casa e até com rastreamento dos pensamentos?

Em suma: esse "1984 comuna" seria um "Dr. Jivago" em dose cavalar!

A inexorável transformação do significado das palavras

Existem vários casos de palavras cujo significado original era um, mas cujo atual é outro. Um exemplo interessante é a palavra "sofisticado", que originalmente significava "pessoa que usa de sofismas", e que hoje em dia é sinônimo de "rebuscado", "chique", "incrementado" etc. Hoje em dia, para falarmos que alguém usa de sofismas, temos que dizer que esse alguém diz coisas sofismáticas ou sofísticas. Se bem que, hoje em dia, a grande maioria das pessoas não sabe o que singifica a palavra "sofisma".

Outro caso igualmente interessante é o do verbo "prejudicar": originalmente, ele significava pré-julgar algo ou alguém, mas hoje em dia é sinônimo de "aviltar" ou "atrapalhar".

Aliás, pouca gente sabe, mas existe o verbo "judicar". O significado é simples: assim como o advogado "advoga", o juiz "judica".

O termo "fissura", que originalmente significava "rachadura", teve seu significado alterado pela geração de meus pais. Desde os anos 60, quando as pessoas dizem, por exemplo, que alguém está "fissurado" em outro alguém, o que se quer dizer é que a pessoa está obcecada, e não rachada, é claro.

Existe um outro adjetivo cujo significado foi alterado, pelo menos na fala coloquial: "embassado". Hoje em dia, algo embassado é algo difícil de fazer, por exemplo. Para mim, quando não consigo ver através de uma janela, ela continua "embassada", malgrado as traquinagens da "galera" da minha época. Aliás, a geração de meus pais substituiu o significado original da palavra "galera" - navio de guerra - pela idéia de "grupo de jovens".

Enfim, são tantas as alterações de significados de palavras que esse artigo certamente será o primeiro de muitos, pois trata-se de um fenômeno fascinante, inexorável, eterno e que acontece com qualquer língua.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Estudo de caso: Uma extravagância chamada esperanto

Desde criança eu já tinha uma idéia do que vinha a ser o esperanto. Porém, só há alguns anos eu conheci o assim chamado movimento esperantista, presente em dezenas de países e que reúne milhares de excêntricos que têm por objetivo intrinsecamente utópico transformar o esperanto na língua global do futuro. Vou explicar a questão do esperanto por etapas:

1- Invenção: em 1887, o judeu-polaco Lazarus Ludwig Zamenhof criou a língua a partir de uma salada mista de dezenas de línguas, pois Zamenhof era um exímio poliglota. Cerca de 70% da gramática do esperanto é baseada no latim e o alfabeto empregado é o latino, pois, em seus estudos, Zamenhof constatou que a maioria das línguas existentes no mundo emprega esse alfabeto. Além disso, a base principal do próprio vocabulário é o latim. Aliás, cabe fazer uma retificação aqui: apesar do que a grande maioria das pessoas pensa, a proposta esperantista não é eliminar todas as línguas que há no mundo e impor o esperanto, e sim transformá-lo na língua neutra global, permitindo que cada povo mantenha a sua própria língua. Inclusive, o próprio lema do movimento esperantista, cunhado por Zamenhof, é: "Para cada povo, a sua língua; para todos os povos, o esperanto." Faço questão de esclarecer esse detalhe sem entrar no mérito, mas apenas por uma questão de justiça.

2- Divulgação: em 26 de julho desse mesmo ano, Zamenhof lançou o primeiro livro de regras do esperanto. O livro era escrito em russo. Aliás, eis aqui uma curiosidade: como Zamenhof era judeu e polaco, motivo de dupla discriminação, ele lançou o livro sob o pseudônimo "Doktoro Esperanto", que significa "Doutor Esperançoso". Assim sendo, o livro e, conseqüentemente, a língua, foram bem aceitos pelo público, cuja grande maioria não sabia das origens do autor.

Em 1905, foi realizado, numa cidade do interior da França, o primeiro congresso de esperanto, que reuniu quase mil pessoas de várias nacionalidades, as quais trataram de divulgar a língua em seus países.

3- Movimento: vários clubes de esperanto foram sendo criados em vários países, começando no Brasil por Campinas em 1906, mas as duas guerras mundiais emperraram o movimento. Inclusive, na II Guerra Mundial, Hitler perseguiu e matou muitos esperantistas na Alemanha e nos territórios ocupados pelo III Reich; Stalin fez o mesmo na União Soviética. A família de Zamenhof foi dizimada. No Japão e na China, também houve perseguição e matança.

Várias organizações tentaram - e continuam tentando - dar um empurrãozinho para ver se o esperanto decola. Em 1954, a ONU, por exemplo, através da UNESCO, passou a apoiar oficialmente a causa esperantista. Mais recentemente, com o advento da internet, o esperanto pôde ser divulgado globalmente de maneira rápida, fácil e barata. Porém, a bem da verdade, a internet foi justamente a mídia que deu ao esperanto o seu merecido status de extravagância de sonhadores totalmente alheios à realidade do mundo, que é pura e simplesmente a seguinte: sempre houve e sempre haverá uma língua global imposta por uma nação. Há 2 mil anos, quem não falasse latim estava por fora. Hoje em dia, quem não fala inglês perde, só por isso, uma miríade de oportunidades preciosas no mercado de trabalho.

4- Peculiaridades: por ser utópico, o movimento esperantista acaba atraindo gente de outras causas quiméricas. Eu tive contato direto com o movimento esperantista e posso afirmar que a maioria dos esperantistas têm relação direta ou indireta com os seguintes movimentos: socialismo, comunismo, anarquismo, vegetarianismo, veganismo, pacifismo, espiritismo etc. Aliás, quanto a esse último, convém relatar que o movimento esperantista brasileiro é tão ligado ao movimento espírita que muita gente tem a falsa idéia de que "o esperanto é uma língua espírita". O próprio espiritismo, que, na sua vertente kardecista, é um fenômeno local restrito ao Brasil, acaba fazendo com que pessoas mal-informadas de outras religiões não queiram aprender esperanto justamente por achar que se trata de uma "língua espírita". Novamente, não estou entrando no mérito, mas apenas fazendo essa outra retificação também por uma questão de justiça.

Existe uma outra corrente de pensamento que é seguida pela grande maioria dos esperantistas: o anti-americanismo. O motivo é óbvio: uma vez que os Estados Unidos são a nação que, devido à sua hegemonia, impõe a língua global atual, os esperantistas costumam atacar ferozmente a nação americana e, por decorrência, a língua inglesa, numa demonstração clara de fraqueza, pois, como se diz no mundo dos negócios: "Se o seu produto funciona, você não precisa ´meter o pau´ na concorrência".

5- Conclusão: o esperanto e o movimento esperantista como um todo são pura perda de tempo. Se você tem facilidade e/ou necessidade de aprender línguas, aprenda inglês e outras línguas do mundo real, pois, como eu já disse anteriormente, sempre houve e sempre haverá uma língua global imposta por uma nação, não obstante a importância, ainda que menor, das línguas secundárias, como é atualmente o espanhol.

quinta-feira, dezembro 04, 2008

A extravagância ortográfica do português brasileiro

Diferentemente de línguas como o espanhol, que possui, graças ao comando da Real Academia, unidade ortográfica absoluta, não obstante a grande quantidade de países hispanófonos, a língua portuguesa tem duas ortografias oficiais: a portuguesa e a brasileira. E pior: a última reforma ortográfica tupiniquim, cujas novas regras já estão em vigor, foi assinada por Lula. Isso equivale a pedir que Maguila aprove regras determinadas num congresso de astrofísica.

Eu ainda hei de descobrir o motivo pelo qual a unificação ortográfica não dá certo na comunidade lusófona. Porém, já lanço de cara o seguinte questionamento: será que o Brasil não consegue resolver os problemas relativos à ortografia porque, dentre outros motivos, a grande maioria dos brasileiros não sabe o que significa a própria palavra "ortografia"? Pode ser, não é mesmo?

Voltando ao assunto da norma ortográfica em si, o estrangeirismo imbroglio, originário do italiano, deve ser escrito, de acordo com o Dicionário Houaiss, da seguinte maneira: imbróglio. A nacionalização da grafia dessa palavra é capenga e perigosa, pois a grande maioria dos nossos compatriotas, que mal fala português, não tem a menor idéia de que o dígrafo gl, típico da língua italiana, tem o mesmo som do dígrafo lh, típico, por sua vez, da língua de Camões. Assim sendo, 90% dos leitores da palavra imbróglio a lerão exatamente assim, e não como deve ser lida: imbrolho, inclusive sem esse acento agudo intrometido. Portanto, por que não se muda a grafia dessa palavra para imbrolho, sendo que, dessa maneira, todo mundo a lerá corretamente? Talvez, isso seja assim justamente porque quem assinou a última reforma foi Lula. Logo, está armado o imbroglio, ou seja, está armada a confusão.

sexta-feira, novembro 28, 2008

Os profetas do apocalipse

Dentro da espécie humana, existe uma raça conhecida como "os profetas do apocalipse": são pessoas que, além de pessimistas, não têm a menor esperança em hipótese alguma. Quando algo está bom, elas acham que vai ficar ruim, e quando algo está ruim, elas acham que vai ficar pior. Para elas, nunca há escapatória, pois o raciocínio delas é intrinsecamente escatológico.

Hoje de manhã, tive um flashback da minha infância: eu estava no ginásio e a professora de geografia disse: "O mundo está ficando cada vez mais informatizado; num futuro próximo, as máquinas tomarão o lugar do ser humano em tudo, condenando milhões de pessoas a morrer de fome. Hoje em dia, se uma simples costureira não souber mexer no computador, ela morre de fome, pois para gerir as receitas e as despesas do seu serviço, ela tem que montar uma planilha no Excel".

Quanto a essa declaração dessa ilustre propedeuta, tenho 3 argumentos para contestá-la:

1- A professora está sendo preconceituosa, pois está partindo do pressuposto de que nenhuma pessoa idosa consegue aprender a mexer no computador, o que não é verdade, pois muitos idosos o fazem perfeitamente.

2- Se, por uma acaso, essa idosa costureira não conseguir aprender a mexer no computador, ela pode contratar alguém para fazer isso, não é mesmo?

3- Na pior das hipóteses, a tal costureira pode continuar gerindo seus negócios como sempre o fez: na ponta do lápis, com uma simples caderneta. Por que não? Por que diabos uma costureira tem que fazer isso no computador? Ela é obrigada, por acaso? Um pipoqueiro também? Um pasteleiro também? Um vendedor de churros, de algodão-doce, de picolés etc. também?

Eu tenho a nítida impressão de que as únicas pessoas que vão ficar do lado dessa professora são pessoas que também pertencem a essa raça mencionada no início do texto. Você pode até reclamar desse texto, mas como diria Chico Anysio: "Só reclama de Tim Tones quem é Tim Tones".

segunda-feira, novembro 24, 2008

Qual deve ser o requisito para exercer o jornalismo? O diploma ou a vocação?

Em 2005, o deputado federal paulista Celso Russomanno apresentou o Projeto de Lei 5253, que cria (ou pretende criar) a OJB - Ordem dos Jornalistas do Brasil, com o objetivo claro e manifesto de regulamentar rigidamente a profissão de jornalista e impedir o exercício do jornalismo por parte de pessoas sem diploma. Quanto a isso, faço os seguintes questionamentos:

1- Através da OJB, o deputado Russomanno pretende meter na cadeia todas as pessoas que atuam na imprensa e que não têm diploma, igualando-as a quem comete o crime de exercício ilegal da medicina, por exemplo. Isso não significaria, na prática, a criação de uma reserva de mercado equivalente àquela que é gerada pelo crivo do exame da OAB?

2- Os fotógrafos e os cinegrafistas são tão jornalistas quanto os repórteres e os editores, mas poucos deles têm diploma de jornalismo. A OJB vai impedi-los de atuarem na imprensa e metê-los na cadeia em caso de exercício ilegal da profissão?

3- Nada impede as pessoas de criarem, num par de cliques, órgãos de imprensa na internet, tais como sites, blogs, jornais, revistas, rádios, TVs etc., e chamarem pessoas sem diploma de jornalismo para atuarem como repórteres, editores, fotógrafos, cinegrafistas etc. Qual seria a atitude da OJB para com a "imprensa virtual"? Regulamentação? Fiscalização? Cadeia para quem não tem diploma? Que mais? Pelo que me parece, o deputado Russomanno se esqueceu desse gigantesco detalhe, até porque o seu Projeto de Lei não fala absolutamente nada sobre o exercício do jornalismo na internet.

Eu poderia levantar outros questionamentos, mas por ora já basta para iniciar o debate. Qual a sua opinião?

A força destrutiva da propaganda enganosa

Certa vez, um amigo meu comentou que estava num shopping com um compadre que queria fazer uma compra numa certa loja. Ele contou que pouco antes de eles chegarem à tal loja, já perto dela, ele foi ao banheiro, e quando voltou, viu seu compadre na rabeira de uma fila tão grande que saía da loja e invadia o corredor. Nesse momento, meu amigo disse: "Isso aqui está parecendo país socialista: uma fila quilométrica para poder ser atendido! Parece aquela fila que se forma em Havana sempre que o governo distribui um sorvetinho num cone de papel-jornal para a população!" Então, uma senhora que era a penúltima pessoa da fila se virou para os dois e disse: "Alto lá! Se isso aqui fosse um país socialista, não haveria filas!" Ao que meu amigo retrucou, com toda razão: "Minha senhora, na verdade, se isso aqui fosse um país socialista, o que não haveria seriam lojas!"

Esse pequeno diálogo entre ele e ela numa fila de shopping demonstra como a propaganda socialista é eficiente, pois ela dá a entender que um país socialista é uma espécie de paraíso terrestre, uma sociedade onde não há filas, tudo é de graça, não há violência, o Estado garante a propriedade privada, as pessoas podem ter empresas, podem ir e vir livremente etc. Porém, a verdade é bem outra: para começo de conversa, numa sociedade socialista, a escova de dentes que está na pia do seu banheiro não é sua. É do Estado. A casa em que você mora não é sua. É do Estado. A vaca que pasta no seu quintal não é sua. É do Estado. Você até poder tomar o leite dela, mas se você a matar, a carne é confiscada pelo Estado. E assim por diante.

A propaganda socialista, tão exaustivamente difundida na grande mídia e nas escolas e universidades, dá a entender que o socialismo nivela as pessoas por cima, isto é, que todos são ricos e simplesmente não há pobres, enquanto que, na verdade, o que ocorre é que o socialismo gera não duas classes, mas duas castas, cujos padrões de vida são infinitamente desiguais: a nomenklatura - termo russo que designa a casta que mama nas tetas do Estado, e os "burros de carga": as pessoas que não são do governo e que trabalham para sustentar o Estado, e que correspondem a 99% da população.

Atualmente, o que mais me preocupa quanto ao socialismo é o seguinte: se por um lado o socialismo como teoria econômica é inviável, por outro lado, o socialismo como regime político é não apenas viável, mas intrinsecamente genocida. Assim sendo, eu pergunto a mim e a você: quantos milhões de pessoas inocentes, famintas e desarmadas serão exterminadas na próxima tentativa de implantação da pseudo-panacéia socialista?

quinta-feira, novembro 13, 2008

O conceito de gorjeta

Desde que eu me entendo por gente, sempre achei estranho esse negócio de gorjeta obrigatória (geralmente uns 10% sobre a conta). Recentemente, descobri o motivo pelo qual eu sempre estranhei isso, pois finalmente entendi o conceito de gorjeta.

Pode parecer até absurdo, mas todas as dezenas de pessoas com quem já falei sobre isso não conheciam o conceito de gorjeta, até porque se o conhecessem teriam concordado com o meu argumento contra essa aberração.

Vamos ao cerne da questão: a gorjeta nada mais é do que uma gratificação que você dá, por sua livre e espontânea vontade, pelo bom atendimento do garçom, pela boa comida, pelo ambiente agradável, pelo banheiro limpo, pela simpatia do maître etc. Se você concorda com tal conceito, você tem, por uma questão de coerência, que discordar desse acréscimo arbitrário de uma porcentagem sobre a conta. A razão é muito simples: e se você for mal atendido? E se a comida for ou estiver ruim? E se o maître tratá-lo(a) mal? E se o banheiro for pior que o de uma rodoviária? Você vai querer dar gorjeta? Claro que não, não é mesmo? Agora, imagine passar por tudo isso e ainda ser obrigado a pagar gorjeta porque um político que gosta de fazer caridade com o dinheiro alheio resolveu impô-la por lei?

A gorjeta obrigatória nada mais é do que uma sobretaxa acrescida à conta, e pior: criada por um deputado ou senador que come às suas custas com cartão corporativo. Aliás, se você consultar o Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, da Editora Melhoramentos, você lerá que a própria definição da palavra "gorjeta" classifica o termo como uma "retribuição por um serviço extraordinário" (fonte: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=gratificação). Portanto, se você, depois de tudo o que eu já lhe expliquei, ainda acha bonito ser obrigado a pagar gorjeta, é um direito que lhe assiste, mas então, de agora em diante, faça-me o favor de pagar a minha conta.

quinta-feira, outubro 30, 2008

O mercado e a questão do obsolescência

Há um tempo atrás, um amigo meu me disse que um professor de economia de sua faculdade, comuna até a medula, fez a seguinte afirmação categórica: "Na economia capitalista, existe o princípio da obsolescência planejada: as empresas desenvolvem seus produtos/serviços plenamente cientes de que eles estarão obsoletos em 3 meses, por exemplo, para depois fazer um produto mais moderno e obrigar [sic] o consumidor a ter que comprá-los".

Analisando a fala desse egrégio propedeuta, pode-se constatar que ele se esqueceu de um detalhe fundamental: o mercado não funciona em uníssono, isto é, cada empresa desenvolve seus produtos/serviços no seu ritmo próprio; logo, sempre pode acontecer de o ritmo de uma empresa ultrapassar o ritmo de outra, fazendo com que os produtos/serviços da empresa A fiquem obsoletos antes do previsto por causa do salto da empresa B, e assim por diante. Aliás, às vezes pode acontecer o contrário também: pode ser que a empresa A desenvolva produtos/serviços que permaneçam atuais por mais tempo do que o previsto, pois as empresas B, C e D ainda não conseguiram dar um passo adiante.

Por fim, cabe comparar a situação supracitada, da economia capitalista, com o esquema de "funcionamento" da economia socialista: nela, impera o "princípio da obsolescência imediata e eterna", pois o desenvolvimento de produtos/serviços é monopolizado pelo Estado, que os impõe (aí sim!) aos cidadãos sem a menor possibilidade de renovação no mercado, simplesmente porque não há mercado, ora!

Qual dos dois modelos você prefere? Eu prefiro o primeiro. Se você prefere o segundo, é um direito que lhe assiste, mas faça o favor de preferi-lo bem longe daqui; de preferência com carteirinha de racionamento e cortando cana na roça!

quarta-feira, outubro 01, 2008

Loco sí, pero no tonto!

Sempre que acontece um massacre perpetrado por atiradores enfurecidos que invadem lugares públicos ou privados e matam dezenas ou centenas de pessoas, logo aparece um monte de palpiteiros afirmando categoricamente que essas pessoas são loucas.

Eu questiono a loucura desses bandidos com uma pergunta muito simples: por que eles só invadem lugares em que eles sabem que as pessoas estão desarmadas? Por que nenhum "louco" jamais invadiu, por exemplo, um congresso da tradicionalíssima instituição americana denominada Associação Nacional do Rifle? Porque esses atiradores enfurecidos tidos como loucos são como Don Quixote de La Mancha, o célebre personagem de Miguel de Cervantes que dizia: "Loco sí, pero no tonto!" O camarada sabe muito bem que para cada tiro que der, toma quarenta!

Na minha mui humilde opinião, louco é o sujeito que não mede as conseqüências em hipótese alguma. Se ele tem discernimento suficiente para não invadir um congresso da NRA, ele não é louco, e sim malandro.

É muito cômodo cometer um monte de crimes hediondos meticulosamente premeditados e depois alegar insanidade. Porém, a bem da verdade, como dizia William Shakespeare, "Por trás dessa loucura, existe um método!"

terça-feira, setembro 09, 2008

Discussão de caráter

Recentemente, lembrei-me das inúmeras conversas que minha mãe já teve com meu pai a respeito de como era tratada por médicos (nesse caso, endocrinologistas) que a tratavam mal quando ela levava meu irmão para se consultar com eles. Meu irmão tem ojeriza de vários tipos de comidas; logo, sua alimentação é restrita a poucos itens, dentre eles queijo e derivados. Mas minha mãe reclamava, com razão, que ela chegava com meu irmão, gordinho e rosado, dizia que ele não comia quase nada e tinha as seguintes respostas: "Você está louca!", ou até pior: "Você é mentirosa!". Na minha humilde opinião, o mínimo que um profissional do ramo da saúde que está sendo muito bem pago deve fazer é não duvidar da palavra do paciente e dos seus acompanhantes.

Além disso, as faculdades de medicina, principalmente do ramo de saúde mental, bem como os cursos de psicologia, deveriam ensinar os seus alunos não apenas a curar os pacientes, mas também a como falar com eles. Parece-me que existe essa lacuna nesses cursos, pois já me tratei com psicólogos e psiquiatras que, além de não saberem como falar comigo, tinham graves desvios de caráter.

Infelizmente, não posso revelar os nomes deles, pois não tenho como provar o que estou dizendo e não quero passar por macartista, mas eu me tratei com 4 supostos especialistas que combinaram uma coisa com meus pais e depois, fizeram comigo exatamente o oposto daquilo que haviam prometido: duvidaram da minha palavra, me ofenderam, falaram sobre assuntos delicadíssimos de maneira estúpida etc., e o pior é que tudo isso custou uma fortuna. Já que hoje em dia fala-se tanto sobre ética médica, aproveito o ensejo para afirmar que esse tipo de comportamento está previsto no artigo 171 do Código Penal: estelionato da pior espécie, pois o que estava em jogo era a minha saúde mental; por extensão, minha qualidade de vida.

Assim sendo, faço, inclusive em causa própria, a seguinte sugestão: proíbam, de uma vez por todas, os violentíssimos trotes das faculdades de medicina e ensinem os seus alunos a tratarem seus pacientes com respeito e vergonha na cara. Em outras palavras, trata-se de uma discussão de caráter. As faculdades têm, urgentemente, que corrigir os desvios de caráter dos futuros profissionais da saúde. Quem é médico e não sabe lidar com gente tem que ser veterinário.

segunda-feira, setembro 08, 2008

O MEC e o sistema educacional brasileiro

Desde sempre, eu me pergunto, com muito pesar: por que o sistema educacional brasileiro não adota, a exemplo de outros países, um ensino direcionado, isto é, com ênfase nas matérias exatas para quem é bom de exatas e ênfase nas matérias humanas para quem é bom de humanas?

Apesar de isso ser uma coisa óbvia, já faz bastante tempo que não é mais assim. Freqüentemente, converso com meu pai a respeito de questões relacionadas a esse assunto e ele sempre me diz que o sistema educacional brasileiro regrediu, por um motivo muito simples: no tempo dele, o ensino era exatamente como falei no parágrafo anterior: após um ano de pré-primário, 4 de primário e 4 de ginásio, cada estudante podia optar pelo clássico (humanas), pelo científico (exatas) ou pelo normal, para quem queria ser professor.

Até pouco tempo atrás, eu não sabia porque isso havia mudado. Recentemente, meu pai, indo mais a fundo nessa questão, me revelou que o MEC mudou o que era ótimo para algo que é horrível para cortar gastos e aumentar a quantidade de salas de aula. No caso da quantidade de salas, cabe explicar que os burocratas do MEC devem ter raciocinado da seguinte maneira: "Em vez de termos 3 salas de 15 alunos (uma do clássico, uma do científico e uma do normal) vamos juntá-las para termos uma única sala de 45 alunos, pois assim haverá mais vagas nas escolas".

O grande problema do modelo atual é justamente o detalhe fundamental que o MEC ignorou, e que derruba o sistema: uma classe única com alunos que seriam do clássico, do científico e do normal é, por definição, uma classe altamente heterogênea. Portanto, o professor não consegue andar com a matéria com a rapidez com que poderia fazê-lo se as classes fossem separadas. Aliás, deve-se lembrar que a quantidade de alunos "generalistas", isto é, que têm um bom desempenho nos 3 campos, é muito pequena, o que causa o sofrimento, tão grande quanto fácil de evitar, da grande maioria dos alunos.

Indo mais além nessa questão, cabe salientar também que um fato importante que o MEC ignora atualmente é a expansão do ensino privado no Brasil, inclusive no interior do país. Se o MEC restaurasse o modelo do tempo do meu pai, caber-lhe-ia, como órgão governamental, apenas e tão-somente estabelecer uma grade mínima de matérias para o clássico, o científico e o normal e deixar o resto por conta da iniciativa privada e dos ajustes naturais do mercado. Se isso fosse feito, o MEC cuidaria apenas das escolas públicas e deixaria os empresários do ramo do ensino fazerem o seu trabalho em paz.

Eu gostaria muito que o MEC restaurasse o modelo antigo por um motivo muito simples: eu sofri demais por causa do modelo atual e não quero que meus filhos e netos passem por esse mesmo sofrimento que, como já disse, é tão grande quanto fácil de evitar.

segunda-feira, junho 16, 2008

Uma questão de demanda - II

Agora há pouco, me lembrei do desabafo histérico de um professor de história que tive no colegial. Vamos analisar a fala dele:

"Esse país está uma merda! Se eu quiser saúde de qualidade, tenho que pagar! Se eu quiser educação de qualidade, tenho que pagar! (...) Às vezes, me dá vontade de juntar todos os mendigos que estão morrendo de fome na rua e invadir o Pão de Açúcar, pois o Abílio Diniz já está rico demais! E ele não paga imposto! Quem paga imposto sou eu, que sou pobre!"

Infelizmente, não existe almoço grátis. Apesar de pagarmos impostos pesadíssimos, o Estado não nos dá nem saúde nem educação de qualidade. C´est la vie. Portanto, a iniciativa privada simplesmente atende à demanda por saúde e educação de boa qualidade. Hoje e sempre.

Porém, o que me parece ridículo é o fato de que esse professor acredita, em sã consciência, que a culpa pela má qualidade dos serviços públicos é da iniciativa privada, isto é, uma vez que a saúde e a educação públicas são ruins, ele afirma categoricamente que a culpa é dos empresários, e não do próprio Estado. Em poucas frases, ele demonstrou que tem inveja da riqueza que Abílio Diniz conquistou com o suor de sua testa e, não contente, ainda o acusou de ser sonegador.

Realmente, a crença de que o Estado é um bom empresário é, para muita gente, um verdadeiro artigo de fé. É a seita do deus Estado. Isso sem falar da crença de que o empresário é um predador da sociedade ou, em outras palavras, um delinqüente tolerável.

Uma questão de demanda

Hoje, ao acessar o site da UNIP, me lembrei dos comentários de uma professora de geografia que tive no colegial que, por ser petista de carteirinha (literalmente), disse, no ano 2000, que se Lula fosse eleito, o PT melhoraria o ensino público, enquanto que FHC não fazia isso porque um dos maiores financiadores de suas campanhas era João Carlos di Genio, dono da Escola Objetivo e da Universidade Paulista - UNIP. Segundo ela, di Genio era, junto com o tucanato, um dos grandes culpados pela má qualidade do sistema público de ensino.

Porém, a bem da verdade, essa professora inverteu propositalmente a relação entre causa e efeito, pois se o ensino público fosse bom, não haveria demanda por escolas privadas. Assim sendo, di Genio não é causador da má qualidade do ensino público, e sim um empreendedor que é bem-sucedido justamente por oferecer algo que o Estado brasileiro não tem: ensino de boa qualidade por preços acessíveis à classe média.

domingo, junho 01, 2008

Um paradoxo tão elementar quanto monstruoso

Há um tempo atrás, vi no YouTube um vídeo que mostrava trechos do último debate do primeiro turno dos candidatos à presidência em 1989. Nesse vídeo, um dos trechos tinha a seguinte legenda: "Pena de morte resolve?", e um comentário veemente de Roberto Freire, que na época era candidato pelo PCdoB. Eis a fala de Freire com suas próprias palavras:

"Em nenhum país em que se aplicou a pena de morte a criminalidade diminuiu. Aliás, devido ao agravamento das penas, essas sociedades acabaram incentivando a violência."

Quanto a essas palavras de Roberto Freire, tenho dois comentários a fazer:

1- Em países como o Brasil, o debate sobre a pena de morte já está, desde há muito, totalmente moldado pelas pessoas e instituições que são contra. Como já disse num texto anterior, existe um princípio elementar da estratégia militar que ensina que não se deve combater o inimigo num terreno que seja favorável a ele. Assim sendo, vamos trazer o debate para um terreno neutro e dizer o seguinte: a pena de morte não é a solução para acabar com a violência. A bem da verdade, ela é, isto sim, um procedimento jurídico através do qual o Estado elimina os predadores da sociedade, tais como assassinos, estupradores, pedófilos, seqüestradores, traficantes, latrocidas*, guerrilheiros, terroristas etc. Eu sou a favor porque, dentre outros motivos, os detratores da pena de morte não são capazes de apontar a solução para acabar com a violência e, muitas vezes, acabam apelando, como foi o caso de Roberto Freire, para argumentos pateticamente contraditórios para confundir a opinião pública. Ou, por acaso, você acha, em sã consciência, que a pena de morte é um estímulo para que os bandidos cometam crimes cada vez mais graves? Dizer que ela não resolve é verdade, mas dizer que ela incentiva a criminalidade é um truque argumentativo ardiloso.

2- Na época em que Roberto Freire disse isso, ele era do PCdoB - Partido Comunista do Brasil, mais conhecido como "Partidão". Você deve saber que o Partido Comunista do Brasil é uma seção de um partido internacional, cuja matriz é o ainda existente Partido Comunista da Rússia e cuja seção da China continua governando aquele país tal como uma típica ditadura comunista, nada importando a sua abertura econômica. Eu mencionei os "Partidões" da Rússia e da China de propósito, por um motivo muito simples: naquela ocasião, Roberto Freire era porta-voz de um partido internacional que, tanto na então União Soviética quanto na China, exterminou mais de 100 milhões de civis inocentes e desarmados, matando muitos deles literalmente de fome. O que quero dizer com isso é tão elementar quanto monstruoso: esse homem que, no supracitado debate, vociferou contra a pena de morte para bandidos cruéis que cometem crimes hediondos era, simultaneamente, o porta-voz brasileiro do partido internacional cujo regime cometeu o maior genocídio da história da humanidade.

Você já conseguiu perceber o paradoxo ou eu preciso explicar melhor?

*O termo "latrocida" não consta da norma culta da língua portuguesa, mas tomei a liberdade de usá-lo para designar claramente os bandidos que cometem o crime de latrocínio.

terça-feira, maio 27, 2008

Datena não é do ramo!

Ontem à noite, assisti na TV Bandeirantes a uma entrevista concedida por José Luiz Datena a um repórter, colega de emissora, em que o rapaz lhe fez uma pergunta bem simples: "Você é a favor da pena de morte?" Existem apenas 3 respostas possíveis para essa pergunta: "Sim.", "Não.", ou "Não tenho opinião formada." Porém, dessa vez Datena se superou, pois disse que é contra e, logo na frase seguinte, se contradisse, falando a seguinte besteira: "Na China, a pena de morte é aplicada para políticos corruptos. Eu sou a favor, pois acho que político ladrão tem que morrer".

A respeito dessa declaração de Datena, eu tenho duas coisas a dizer:

1- Que eu saiba, Datena é formado em jornalismo, mas sua resposta a essa pergunta demonstra que ele conserva, depois de 120 anos de carreira, um cacoete mental que todo e qualquer estudante de jornalismo tem o dever de consertar no primeiro semestre de curso: quando alguém lhe faz uma pergunta simples e objetiva sobre um assunto que é uma questão de opinião, você não pode dizer uma coisa e, logo na frase seguinte, dizer o contrário, pois quando você faz isso, você quebra o seu próprio argumento. Será que esse "homem de imprensa" não aprendeu isso até agora?

2- Datena citou a China como exemplo de um país onde a pena de morte é aplicada a políticos corruptos. Porém, a bem da verdade, o que existe na China, que muitos desinformados chamam de "indústria da pena de morte", não passa de uma indústria de execuções arbitrárias de cidadãos meramente suspeitos de cometerem inúmeros tipos de crimes, da corrupção ao assassinato. Lá, os processos duram, em média, apenas algumas semanas e os supostos culpados são fuzilados a toque de caixa. Afinal, não devemos nos esquecer jamais de que apesar de a China ter aberto sua economia, seu regime político continua sendo uma ditadura genocida governada pelos generais do Partido Comunista. Lá, o Poder Judiciário é subordinado ao Partidão e a imprensa, tanto nacional quanto estrangeira, é violentamente censurada. Aliás, o governo chinês controla até a internet. Por outro lado, Datena não mencionou países democráticos, tais como os Estados Unidos, onde os Estados que aplicam a pena de morte (quase todos) seguem à risca o chamado due process of law, isto é, os suspeitos são submetidos a investigações minuciosas que duram anos, além, é claro, do tribunal do júri. Assim sendo, os réus só são condenados à morte após a apresentação de provas cabais da culpa deles.

Mais uma vez, Datena confirma que não é do ramo. Aliás, é bom lembrar que Datena é um repórter esportivo que caiu de pára-quedas na crônica policial. Há alguns anos, Datena afirmou que o projeto "Tolerância Zero", implantado em Nova York pelo então prefeito Rudolph Giuliani, foi instituído para matar negros, latinos e mendigos. Um jornalista policial de verdade não tem o direito de falar uma besteira como essa. Porém, em vez de falar a verdade, isto é, que o "Tolerância Zero" foi implantado para matar bandidos, Datena preferiu vociferar esse velho clichê anti-americano de que os policiais americanos operam um extermínio silencioso das minorias.

É uma heresia admitir Datena como repórter policial e incluí-lo na mesma classe profissional de lendas vivas como Luiz Carlos Alborghetti, por exemplo. O programa de Datena, "Brasil Urgente", está a léguas de distância de programas policiais verdadeiros, tais como o lendário "Cadeia", pois é apresentado por um sujeito que, de uma vez por todas, não é do ramo!

segunda-feira, abril 07, 2008

Um desafio ao relativismo absoluto

No dia 16 do mês passado, escrevi um texto sobre a cilada do relativismo absoluto, que eu costumo chamar de "tirania do vale-tudo". Esse texto é uma espécie de continuação daquele, pois vou dar um exemplo de como os pregadores do relativismo absoluto podem ser trucidados com simples perguntas.

Eis o exemplo: qual seria a posição de um relativista absoluto perante a escravidão? Se ele agir com coerência, terá que aceitá-la. Porém, você acha que ele teria coragem de falar isso em público? Eu creio que não, por um motivo muito simples: hoje em dia, felizmente, questões como a escravidão são abominadas instantaneamente, pois a humanidade já constatou há muito tempo que o trabalho forçado, não-remunerado e degradante é imoral. Assim sendo, dificilmente um relativista absoluto teria coragem de pregar que esse ou aquele povo teria o suposto direito de restabelecer a escravidão.

Existem inúmeros desafios que podem e devem ser propostos aos tiranos do vale-tudo, pois, dentre outras coisas, ninguém pode ter o direito de escravizar os outros sob nenhum pretexto. Isso é uma questão não de "respeito à diversidade", mas de vergonha na cara.

quarta-feira, março 19, 2008

Identidade indelével

Certa vez, durante seu programa na Rede Globo, Jô Soares entrevistou um violinista que imigrou do Leste Europeu para o Brasil durante a II Guerra Mundial porque sua família havia sido destroçada pelo regime soviético. Obviamente, esse imigrante criticou Stalin e o chamou daquilo que ele foi: genocida. Então, Jô entrou na conversa e disse que é um absurdo chamar Stalin de comunista. Aliás, Jô falou isso dando a entender que o socialismo nada tem a ver com as inúmeras atrocidades cometidas por Stalin e pelos camaradas do Partidão e é uma ideologia de resultados sacrossantos.

Porém, apesar da ladainha do comunófilo Jô, Stalin é uma pessoa cuja biografia literalmente personifica a história do movimento comunista, devido à sua trajetória revolucionária - no pior sentido possível do termo.

Portanto, dizer que Stalin não era comunista é o mesmo que dizer que o papa não é católico.

domingo, março 16, 2008

A cilada do vale-tudo

O relativismo absoluto é a tirania do vale-tudo. Essa afirmação, que a princípio pode parecer uma contradição de termos, é endoçada pelo fato empiricamente demonstrável de que qualquer liberação total da conduta humana resulta, mais cedo ou mais tarde, no império da libertinagem.

Você certamente conhece uma música de Tim Maia em que ele cantava: "Vale tudo! Vale tudo! Só não vale dançar homem com homem e nem mulher com mulher!". Pois bem: essa frase é, metaforicamente, um exemplo típico de que a limitação moral da conduta humana é tão inerente à sua natureza quanto as nossas necessidades biológicas, tais como a fome e o sono, por exemplo.

Certa vez, um antropólogo disse na TV que as pessoas de bom caráter não devem usar a palavra "raça", pois, segundo ele, trata-se de um termo altamente pejorativo que deve ser substituído pela palavra "etnia". Até aí, nada de muito grave. Porém, logo depois, ele levantou a bandeira do relativismo cultural, dizendo que o costume de certas tribos da África Central de cortar o clitóris das mulheres para que elas não tenham orgasmos e não traiam seus maridos é uma manifestação cultural válida e digna de respeito. Com base nisso, pode-se chegar a duas constatações:

Primeira: há uma deformação monstruosa na hierarquia de valores desse cidadão, pois o uso ou não da palavra "raça" é algo infinitamente menos grave do que a remoção cirúrgica do clitóris de uma mulher, cujo termo técnico é "clitorectomia".

Segunda: ele demonstrou cabalmente que só é relativista quando lhe convém, pois não admite em hipótese alguma o uso da palavra "raça", mesmo que isso não seja nada perto da já mencionada clitorectomia.

Outro dia, num programa de rádio, um sociólogo fez várias afirmações que deram a entender que não há nada justo ou injusto; tudo é uma questão de em que lado você está. Porém, se vale tudo, um assassinato pode ser considerado um ato justo, pois o assassino pode alegar em sua defesa que a pessoa que ele matou merecia morrer, não é mesmo? Veja o tamanho da cilada em que esse sujeito poderia cair se alguém lhe dissesse isso em público!

O relativismo cultural só é possível quando acompanhado do relativismo moral, pois o julgamento de uma cultura, tanto isoladamente quanto em relação a outras culturas, só pode ser feito com base em valores morais dos quais os relativistas têm que abdicar em nome de uma visão de mundo "sem preconceitos". Entretanto, mais cedo ou mais tarde, a natureza humana acaba falando mais alto e destruindo qualquer possibilidade real de manutenção do relativismo absoluto. O motivo é simples: todos nós, sem exceção, somos contra algo; logo, nenhum de nós aceita tudo. Portanto, sempre haverá algo a que todo e qualquer relativista, por mais relativista que ache que é, será contra por razões morais, pois, como eu já disse, o senso de justiça é inerente à natureza humana.

Após a exposição desses argumentos, você deve ter percebido que o relativismo absoluto é uma cilada na qual os próprios relativistas sempre acabam caindo, mais cedo ou mais tarde, pois a imposição de limites morais à conduta humana é um procedimento imprescindível para a própria sobrevivência da nossa espécie, afinal, ninguém pode ter o direito de fazer tudo o que quiser. Hoje e sempre.

quinta-feira, março 13, 2008

As supostas profecias de Nostradamus

Sempre que o mundo é surpreendido por algum acontecimento, geralmente trágico, que causa mudanças drásticas na maneira como as pessoas encaram o futuro da humanidade, eis que surge um monte de gente afirmando categoricamente que Michel de Notredame, mais conhecido como Nostradamus, previu tal hecatombe.

Porém, um detalhe que quase ninguém percebe, por desconhecimento ou por desatenção, é o fato de que os textos cuja autoria é atribuída a Nostradamus são de uma linguagem poética tão vaga que, dependendo da interpretação que fizermos, qualquer coisa pode ter sido prevista por ele. Afinal, Nostradamus não escrevia suas supostas profecias numa linguagem clara e objetiva, e sim com uma afetação de poesia extremamente floreada. Assim sendo, sempre que algo de proporções mundiais acontece, os auto-proclamados intérpretes de Nostradamus lêem seus textos, interpretam livremente uma meia-dúzia de frases dele e fazem associações retroativas a respeito de coisas que já aconteceram. Mas quem disse que isso pode ser chamado de profecia? Desde quando um fato retroativamente apurado como previsto pode ser considerado uma previsão?

Analisemos essa suposta profecia: “O líder terceiro cometerá atos mais execráveis do que Nero. Quanto sangue de pessoas valentes fará correr! Ele reerguerá os fornos do sacrifício. A ‘Era de Ouro’ é uma era de morte. O novo potentado é um escândalo”. O que isso realmente quer dizer? Vários intérpretes atribuíram esses versos à Revolução Francesa. Alguns acham que ele falava sobre Hitler e a ascensão do nazismo. Mas a questão que vem à tona é: desde quando um punhado de comentários vagos sobre alguém cujo nome nem é revelado pode ser considerado uma previsão do futuro? Nas frases acima, assim como em muitos outros trechos que poderíamos pegar, Nostradamus faz afirmações sobre coisas que podem ser distorcidas ao bel-prazer da interpretação de pessoas ingênuas e impressionáveis.

Outro aspecto interessante das supostas profecias de Nostradamus é o fato de que, de acordo com tudo aquilo que já li e ouvi sobre a obra dele, suas "previsões" são sempre catastróficas, apocalípticas. Nunca ouvi falar de algo bom que Nostradamus tenha previsto. Pelo que me parece, ele sabia muito bem que as pessoas em geral têm uma espécie de fascínio macabro por hecatombes, e não por previsões positivas.

Não estou negando terminantemente a existência de pessoas sérias que fazem previsões e que podem, se for o caso, ser chamadas de profetas. Apenas estou dizendo que pessoas assim são raríssimas e que devemos ter muito cuidado para não sairmos por aí acreditando que o mundo vai acabar por causa das supostas previsões de cada novo profeta de araque que aparecer pela nossa frente.

domingo, janeiro 20, 2008

Não se melhora um país por decreto!

Há algum tempo, adicionei uma pessoa por engano no meu MSN e a mensagem de apresentação dela era no mínimo interessante: "Vamos proclamar um país mais justo!".

Depois de um certo tempo, consultei um dicionário para verificar os significados do verbo "proclamar". Seus sinônimos são: declarar, anunciar, afirmar, publicar e, por fim, decretar. Esse último significado é o que vem à minha mente quando alguém fala sobre a proclamação de algo. Assim sendo, isso me leva a pensar: será que essa pessoa acredita que é possível melhorar um país por decreto?

O que faz um país melhorar e ficar mais justo, por exemplo, são coisas como: crescimento econômico, desenvolvimento tecnológico, saúde, educação, segurança pública, justiça eficiente, arte, cultura, ação política etc. Porém, nós devemos lutar para tornar tudo isso realidade através da ação concreta, e não do formalismo legislativo.

Toda lei que não combina com a atitude e com a mentalidade do povo torna-se letra morta, ou melhor, letra natimorta, pois morre assim que é promulgada. Apesar de o império da lei ser indispensável para o progresso da sociedade, ninguém deve ficar esperando que boas leis sejam promulgadas para mudar de atitude e passar a ter uma boa conduta.

Não se melhora um país por decreto, mas pela ação prática de cada um de nós.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Debate pré-moldado

Um princípio elementar da estratégia militar ensina que não se deve combater o inimigo num terreno que seja favorável a ele. Esse princípio bélico pode se aplicar a uma situação de debate, por exemplo.

Um caso típico em que essa premissa tem que ser usada, para o bem da sociedade, é o debate acerca do assalto ao apresentador televisivo Luciano Huck: no ano passado, deparei-me, na casa de uma amiga, com uma edição da revista Época cuja capa mostrava uma foto de Luciano com a boca tapada e a seguinte pergunta: "Ele mereceu ser roubado?"

Não consegui abrir a revista para ler a matéria da capa, pois fiquei com nojo da pergunta, através da qual pude constatar que quem quer que a tenha concebido estava espumando de inveja, pois Huck é um cidadão famoso e rico.

Muitos pensamentos vieram à minha cabeça desde que vi essa capa de revista. Um deles foi o seguinte: será que quando uma celebridade rica for vítima de um latrocínio, por exemplo, a imprensa vai se perguntar se ela mereceu ser assassinada? Desde quando uma discussão nesses termos é aceitável? Outro pensamento foi o seguinte: se Luciano Huck está sendo tratado dessa maneira mesmo tendo toda uma preocupação social, o que a imprensa diria se ele não fizesse nenhum trabalho filantrópico? Do jeito como o Brasil está, a revista Época seria capaz de trocar o ponto de interrogação pelo ponto de exclamação, e a manchete sairia assim: "Ele mereceu ser roubado!"

Eu jamais aceitaria debater com alguém que partisse do princípio de que quem é rico merece ser roubado, mesmo que o interlocutor não afirmasse isso de maneira explícita. Aceitar um debate nesses termos seria combater o inimigo no campo dele e cair numa cilada, pois um debate assim está claramente pré-moldado, e isso gera uma relação de assimetria entre os debatedores, a qual sempre favorece o debatedor desonesto.

Nunca se deve aceitar uma discussão polida com pessoas e instituições cuja pretensão seja destruir os valores morais da sociedade. Não existem ricos porque existem pobres, e nem vice-versa. Além disso, a conta bancária de cada cidadão não tem nada a ver com os seus direitos, dentre eles a segurança pública. Tais coisas estão em planos diferentes.

Ninguém merece ser assaltado ou assassinado por um assaltante, independente do seu bolso. Esse tipo de discussão, em que os ricos são considerados exploradores da sociedade e os bandidos são tratados como "justiceiros sociais", não é aceitável em hipótese alguma.