quinta-feira, agosto 27, 2009

Estratégia infeliz

A estratégia adotada pelo Senador Eduardo Suplicy, do PT paulista, que representa, ou pelo menos parece representar, aquele 1% de políticos que ainda prestam num panorama de corrupção "como nunca antes nesse país", foi mais do que equivocada. Foi infeliz. Discursando na Tribuna do Senado, Suplicy tomou uma atitude cujas classes menos instruídas da população brasileira certamente entenderam às avessas do que ele de fato quis dizer: ao mostrar o cartão vermelho para José Sarney, Suplicy "misturou as estações" e acabou dando a entender ao povo que quer expulsar Sarney "na marra", quando deveria ter exigido, isto sim, uma votação, de preferência aberta e nominal, do mérito da questão que mais se discute no Senado atualmente: a cassação ou a permanência do Presidente José Sarney.

Suplicy quis dizer que exige a votação, mas o gesto de mostrar o cartão vermelho, tal como um árbitro numa partida de futebol, certamente deu a entender aos menos ilustrados justamente o contrário, ou seja, a expulsão de Sarney, a saída de Sarney pela porta dos fundos, tal como o jogador expulso que vai para o chuveiro mais cedo devido à expulsão inquestionável e irrevogável do árbitro.

Uma partida de futebol não é uma democracia, pois todos os seus lances, inclusive a sua própria realização, são submetidos à autoridade absoluta de um único indivíduo: o árbitro, que rege a partida de maneira autocrática. Portanto, a relação de poder entre o árbitro e os jogadores nada tem a ver com a atividade parlamentar, pois o Parlamento é um espaço de discussões e votações em que o Presidente da Casa tem por função primordial ser um mediador de conflitos entre os parlamentares, os partidos, as bancadas, a situação e a oposição etc.

Das duas, uma: ou Suplicy foi mal-assessorado ou fez questão de ignorar os conselhos de seus assessores de gabinete, de partido e talvez até de coalizão.

sexta-feira, agosto 21, 2009

Estudante é profissão, e não classe!

De uns tempos para cá, pude perceber que, mesmo nos já distantes anos 60 e 70, a UNE e demais entidades estudantis já haviam se transformado em verdadeiras entidades de classe, levando-se em conta o papel que já exerciam no âmbito da representação formal dos estudantes, muito embora a profissão de estudante não corresponda a uma categoria profissional de fato. Hoje em dia, nota-se claramente que os líderes das entidades estudantis viraram dirigentes sindicais, ou seja, "estudantes" que não estudam e que vivem do dinheiro que arrecadam dos membros dos seus "sindicatos".

Nos já citados e, repito, já distantes anos 60 e 70, a UNE e demais entidades estudantis já eram subdivididas em 3 alas: os "estudantes" que apoiavam a famigerada "luta armada", representada pelo "Partidão" e demais organizações terroristas e guerrilheiras, e o seu plano de derrubar a ditadura militar para implantar no seu lugar uma ditadura comunista calcada no eixo Havana-Moscou-Pequim; os "estudantes" que queriam derrubar a ditadura militar mas não sabiam ao certo o que colocar no lugar dela; e os "estudantes" que faziam baderna por fazer, ou seja, participavam das passeatas e demais atos públicos apenas repetindo slogans fabricados pelos líderes, enfrentavam a Tropa de Choque da PM e, merecidamente, apanhavam da polícia.

Além de tudo isso, o atual regime democrático criou a figura do "pelego estudantil", ou seja, o líder estudantil que tem rabo preso com o governo. A seguir, trecho do artigo "Os parasitas e a decadência moral", do economista carioca Rodrigo Constantino, publicado no seu blog em 19 de abril de 2006:

Quando penso nesse desvirtuamento total, me vem à cabeça a figura de um Lindberg Farias. Não é nada pessoal. Ele apenas representa um símbolo dessa completa decadência moral. A trajetória do atual prefeito de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, demonstra bem o que quero dizer. Cursou Direito em Brasília e na PUC carioca, faculdade para poucos do ponto de vista financeiro. Não completou nenhum dos dois cursos. (...) Não saiu para empreender e criar algo de valor para os consumidores, mas sim para incitar greves e pregar bravatas. Foi presidente da UNE, movimento formado basicamente por estudantes (sic) baderneiros, muitos admiradores do regime assassino comunista. Virou líder popular ao comandar os "caras-pintadas" no processo de impeachment de Collor. Depois, foi eleito deputado federal, transitando entre partidos como o PCdoB, PSTU e PT. Algo que vai do sonho soviético até o “mensalão”. Finalmente, chegou à prefeitura de Nova Iguaçu pelo PT, recebendo um bom salário e desfrutando de todas as vantagens que os políticos costumam se auto-conceder. Vive no conforto, pregando contra o conforto dos outros.

http://rodrigoconstantino.blogspot.com/2006/04/os-parasitas-e-decadncia-moral.html

De tudo aquilo que nos é exposto por esse trecho do artigo de Constantino, pode-se perceber que o "peleguismo estudantil" parece ser a tendência natural dos líderes da "classe" estudantil.

No fim das contas, o que me deixa mais triste quanto a esse assunto é o fato de que hoje em dia, esses "sindicatos estudantis" só lutam de fato por "causas" como, por exemplo, a meia-entrada no cinema, através da carteirinha de estudante, e a redução das tarifas de ônibus para a "categoria". Nada contra, mas eu nunca ouço falar desse povo lutando por causas como a melhoria do ensino através da adequação das grades curriculares, por exemplo, dentre outras coisas infinitamente mais importantes para a sociedade como um todo.

domingo, agosto 16, 2009

Não existe remédio sem "sal"!

Agora há pouco, em entrevista concedida ao programa Repórter Record, Edir Macedo afirmou, categórica e surpreendentemente: "Eu odeio religião! Religião é a coisa mais podre que existe no mundo!"

Se fosse eu a entrevistá-lo naquela ocasião, eu lhe perguntaria: "Se a religião é uma coisa abominável, a sua igreja prega o quê?" Vou explicar minha pergunta da seguinte maneira: todo e qualquer remédio tem, por trás do nome, um princípio ativo, popularmente chamado de "sal". Os remédios têm várias formas: comprimidos, cápsulas, pílulas, sprays, pomadas, soluções líquidas (injetadas ou "via oral") etc., mas o que cura as pessoas de seus males não são esses objetos, e sim o seu conteúdo, ou seja, as substâncias que são introduzidas no organismo através das várias formas de remédios já citadas acima. Portanto, remédio sem "sal" não é remédio. É placebo.

Por um lado, a eficácia do efeito-placebo em muitos casos, inclusive de doenças graves, é coisa já arqui-provada. Por outro lado, mesmo que o placebo funcione de fato, não é remédio, mas apenas placebo, até porque nem tudo o que cura é remédio; aliás, o próprio efeito-placebo é uma prova disso.

Migrando para o campo da fé, igreja sem religião é como remédio sem "sal", pois não existe igreja sem religião. Por outro lado, pode existir, isto sim, religião sem igreja, pois a religião é o "sal", e a igreja é apenas o "remédio". Assim sendo, igreja sem religião é placebo, o que, no caso da religião, significa "seita".

A palavra "seita" não é necessariamente pejorativa, e nem mesmo remonta necessariamente à religião. Quando o ser humano transforma pessoas ou instituições mundanas em objetos de culto dogmático, cria-se uma religião laica, ou seja, um artigo de fé desprovido de conteúdo metafísico.

No Brasil, por exemplo, existem várias religiões laicas com milhares de fiéis. Uma das mais numerosas e fervorosas é o Corinthians, cuja comunidade de torcedores se autodenomina "Fiel". Sendo assim, o Corinthians é uma seita, não necessariamente no mal sentido.

Outro exemplo de religião laica é o PT, que é uma verdadeira seita, no sentido político do termo. Em escala mundial, as máfias, a KGB, o comunismo, o ambientalismo radical etc. são religiões laicas com milhões de seguidores.

Voltando à Igreja Universal do Reino de Deus, se o próprio cabeça da igreja odeia religião, refaço a pergunta do início do texto: que diabos ela prega, se me permite o trocadilho? Auto-ajuda? Neurolingüística? Macumba? O que, enfim? Ou então a Igreja Universal é uma "igreja-placebo", ou seja, se você "tomar com fé" você fica bem? Ou talvez uma pirâmide financeira disfarçada de igreja, cujos diplomas de dizimista (sic) são assinados por ninguém menos que Jesus Cristo em pessoa?

Como já falei antes, existe religião sem igreja, pois existe cura sem remédio, mas não existe igreja sem religião. Igreja sem religião é partido político sem ideologia, jornal sem linha editorial, caneta sem tinta, carro sem gasolina, lâmpada sem eletricidade, idioma sem palavras, futebol sem gol, livro sem texto, televisão sem imagem, rádio sem som etc. Em outras palavras, é uma farsa: se algo não tem o que tem que ter para sê-lo, não o é.

Por fim, digo o seguinte: se Jesus voltasse à Terra hoje e visse sujeitos como Edir Macedo fazerem o que fazem em nome dele, a primeira coisa que ele diria a todos os cristãos do mundo seria: "Eu não sou cristão!"