domingo, agosto 28, 2011

A raça, o preconceito e o Brasil

Existe uma questão que, freqüentemente, é tema de discussão aqui no Brasil: o povo brasileiro é racista? A resposta a esta questão não é simples, mas posso começar a respondê-la dizendo que há no Brasil, de fato, um fortíssimo preconceito de cor, mas cor da pele, por si só, não é raça, pois o conceito de raça vai muito além disso. Por outro lado, o povo brasileiro não é racista, pelo menos não no sentido americano de racismo.

Em países como os Estados Unidos, a grande maioria da população, e não apenas os assim chamados "brancos", é profundamente racista, pois a grande maioria dos americanos acreditam piamente que os diferentes grupos étnicos são "clãs" humanos essencialmente diferentes, e que o melhor a fazer, para o bem da sociedade, é traçar fronteiras entre os grupos e mantê-los "puros", para evitar a mestiçagem, o que, na opinião de todo e qualquer racista, é uma coisa abominável que causa uma espécie de "degeneração", nos sentidos cultural, social e até genético do termo.

O discurso em prol da raça é a negação do Brasil, pois se o povo brasileiro fosse racista, não seria mestiço. A idéia de que a mestiçagem é não apenas aceita, mas considerada uma coisa positiva, é uma idéia genuinamente brasileira. Porém, não se pode negar que no Brasil há pouquíssimos negros e mulatos nas classes A e B e, de um modo geral, em cargos de liderança social, acadêmica, empresarial, política etc.

Enquanto, nos Estados Unidos, o próprio governo classifica os seus cidadãos de acordo com mais de 15 categorias raciais, a quase-totalidade dos cidadãos brasileiros têm uma enorme dificuldade de se auto-definir em termos raciais. O máximo que os brasileiros declaram no Censo é uma referência à cor da pele, sendo que, segundo dados governamentais de 2008, cerca de 44% dos brasileiros, isto é, quase metade da população, se declaram "pardos" (mestiços).

Geralmente, quando o brasileiro pensa em raça, o que vem à sua mente é o conceito, vago e bipolar, de "raça branca" e "raça negra". Raríssimamente um brasileiro vai além disso. Ademais, no Brasil não existe o conceito de "família branca" ou "família negra". É muito comum que os brasileiros dividam as famílias em católicas ou evangélicas, nortistas ou sulistas, corinthianas ou flamenguistas, ricas ou pobres etc., mas quase nunca atribuindo uma raça à família, até porque é justamente no seio da família que se manifesta o fenômeno social, cultural e genético da mestiçagem.

Em suma, como diria Demetrio Magnoli, "raça é coisa de cachorro!"

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