domingo, março 16, 2008

A cilada do vale-tudo

O relativismo absoluto é a tirania do vale-tudo. Essa afirmação, que a princípio pode parecer uma contradição de termos, é endoçada pelo fato empiricamente demonstrável de que qualquer liberação total da conduta humana resulta, mais cedo ou mais tarde, no império da libertinagem.

Você certamente conhece uma música de Tim Maia em que ele cantava: "Vale tudo! Vale tudo! Só não vale dançar homem com homem e nem mulher com mulher!". Pois bem: essa frase é, metaforicamente, um exemplo típico de que a limitação moral da conduta humana é tão inerente à sua natureza quanto as nossas necessidades biológicas, tais como a fome e o sono, por exemplo.

Certa vez, um antropólogo disse na TV que as pessoas de bom caráter não devem usar a palavra "raça", pois, segundo ele, trata-se de um termo altamente pejorativo que deve ser substituído pela palavra "etnia". Até aí, nada de muito grave. Porém, logo depois, ele levantou a bandeira do relativismo cultural, dizendo que o costume de certas tribos da África Central de cortar o clitóris das mulheres para que elas não tenham orgasmos e não traiam seus maridos é uma manifestação cultural válida e digna de respeito. Com base nisso, pode-se chegar a duas constatações:

Primeira: há uma deformação monstruosa na hierarquia de valores desse cidadão, pois o uso ou não da palavra "raça" é algo infinitamente menos grave do que a remoção cirúrgica do clitóris de uma mulher, cujo termo técnico é "clitorectomia".

Segunda: ele demonstrou cabalmente que só é relativista quando lhe convém, pois não admite em hipótese alguma o uso da palavra "raça", mesmo que isso não seja nada perto da já mencionada clitorectomia.

Outro dia, num programa de rádio, um sociólogo fez várias afirmações que deram a entender que não há nada justo ou injusto; tudo é uma questão de em que lado você está. Porém, se vale tudo, um assassinato pode ser considerado um ato justo, pois o assassino pode alegar em sua defesa que a pessoa que ele matou merecia morrer, não é mesmo? Veja o tamanho da cilada em que esse sujeito poderia cair se alguém lhe dissesse isso em público!

O relativismo cultural só é possível quando acompanhado do relativismo moral, pois o julgamento de uma cultura, tanto isoladamente quanto em relação a outras culturas, só pode ser feito com base em valores morais dos quais os relativistas têm que abdicar em nome de uma visão de mundo "sem preconceitos". Entretanto, mais cedo ou mais tarde, a natureza humana acaba falando mais alto e destruindo qualquer possibilidade real de manutenção do relativismo absoluto. O motivo é simples: todos nós, sem exceção, somos contra algo; logo, nenhum de nós aceita tudo. Portanto, sempre haverá algo a que todo e qualquer relativista, por mais relativista que ache que é, será contra por razões morais, pois, como eu já disse, o senso de justiça é inerente à natureza humana.

Após a exposição desses argumentos, você deve ter percebido que o relativismo absoluto é uma cilada na qual os próprios relativistas sempre acabam caindo, mais cedo ou mais tarde, pois a imposição de limites morais à conduta humana é um procedimento imprescindível para a própria sobrevivência da nossa espécie, afinal, ninguém pode ter o direito de fazer tudo o que quiser. Hoje e sempre.

Um comentário:

Anônimo disse...

ta melhorando - mas tem que escrever mais diretamente sem florear - sugestao do proximo tema - portuguesa santista - ass haidar