domingo, junho 01, 2008

Um paradoxo tão elementar quanto monstruoso

Há um tempo atrás, vi no YouTube um vídeo que mostrava trechos do último debate do primeiro turno dos candidatos à presidência em 1989. Nesse vídeo, um dos trechos tinha a seguinte legenda: "Pena de morte resolve?", e um comentário veemente de Roberto Freire, que na época era candidato pelo PCdoB. Eis a fala de Freire com suas próprias palavras:

"Em nenhum país em que se aplicou a pena de morte a criminalidade diminuiu. Aliás, devido ao agravamento das penas, essas sociedades acabaram incentivando a violência."

Quanto a essas palavras de Roberto Freire, tenho dois comentários a fazer:

1- Em países como o Brasil, o debate sobre a pena de morte já está, desde há muito, totalmente moldado pelas pessoas e instituições que são contra. Como já disse num texto anterior, existe um princípio elementar da estratégia militar que ensina que não se deve combater o inimigo num terreno que seja favorável a ele. Assim sendo, vamos trazer o debate para um terreno neutro e dizer o seguinte: a pena de morte não é a solução para acabar com a violência. A bem da verdade, ela é, isto sim, um procedimento jurídico através do qual o Estado elimina os predadores da sociedade, tais como assassinos, estupradores, pedófilos, seqüestradores, traficantes, latrocidas*, guerrilheiros, terroristas etc. Eu sou a favor porque, dentre outros motivos, os detratores da pena de morte não são capazes de apontar a solução para acabar com a violência e, muitas vezes, acabam apelando, como foi o caso de Roberto Freire, para argumentos pateticamente contraditórios para confundir a opinião pública. Ou, por acaso, você acha, em sã consciência, que a pena de morte é um estímulo para que os bandidos cometam crimes cada vez mais graves? Dizer que ela não resolve é verdade, mas dizer que ela incentiva a criminalidade é um truque argumentativo ardiloso.

2- Na época em que Roberto Freire disse isso, ele era do PCdoB - Partido Comunista do Brasil, mais conhecido como "Partidão". Você deve saber que o Partido Comunista do Brasil é uma seção de um partido internacional, cuja matriz é o ainda existente Partido Comunista da Rússia e cuja seção da China continua governando aquele país tal como uma típica ditadura comunista, nada importando a sua abertura econômica. Eu mencionei os "Partidões" da Rússia e da China de propósito, por um motivo muito simples: naquela ocasião, Roberto Freire era porta-voz de um partido internacional que, tanto na então União Soviética quanto na China, exterminou mais de 100 milhões de civis inocentes e desarmados, matando muitos deles literalmente de fome. O que quero dizer com isso é tão elementar quanto monstruoso: esse homem que, no supracitado debate, vociferou contra a pena de morte para bandidos cruéis que cometem crimes hediondos era, simultaneamente, o porta-voz brasileiro do partido internacional cujo regime cometeu o maior genocídio da história da humanidade.

Você já conseguiu perceber o paradoxo ou eu preciso explicar melhor?

*O termo "latrocida" não consta da norma culta da língua portuguesa, mas tomei a liberdade de usá-lo para designar claramente os bandidos que cometem o crime de latrocínio.

Um comentário:

Conde Loppeux de la Villanueva disse...

Só uma correção, meu amigo: na verdade, o Roberto Freire é do PCB, não do PC do B.