domingo, agosto 16, 2009

Não existe remédio sem "sal"!

Agora há pouco, em entrevista concedida ao programa Repórter Record, Edir Macedo afirmou, categórica e surpreendentemente: "Eu odeio religião! Religião é a coisa mais podre que existe no mundo!"

Se fosse eu a entrevistá-lo naquela ocasião, eu lhe perguntaria: "Se a religião é uma coisa abominável, a sua igreja prega o quê?" Vou explicar minha pergunta da seguinte maneira: todo e qualquer remédio tem, por trás do nome, um princípio ativo, popularmente chamado de "sal". Os remédios têm várias formas: comprimidos, cápsulas, pílulas, sprays, pomadas, soluções líquidas (injetadas ou "via oral") etc., mas o que cura as pessoas de seus males não são esses objetos, e sim o seu conteúdo, ou seja, as substâncias que são introduzidas no organismo através das várias formas de remédios já citadas acima. Portanto, remédio sem "sal" não é remédio. É placebo.

Por um lado, a eficácia do efeito-placebo em muitos casos, inclusive de doenças graves, é coisa já arqui-provada. Por outro lado, mesmo que o placebo funcione de fato, não é remédio, mas apenas placebo, até porque nem tudo o que cura é remédio; aliás, o próprio efeito-placebo é uma prova disso.

Migrando para o campo da fé, igreja sem religião é como remédio sem "sal", pois não existe igreja sem religião. Por outro lado, pode existir, isto sim, religião sem igreja, pois a religião é o "sal", e a igreja é apenas o "remédio". Assim sendo, igreja sem religião é placebo, o que, no caso da religião, significa "seita".

A palavra "seita" não é necessariamente pejorativa, e nem mesmo remonta necessariamente à religião. Quando o ser humano transforma pessoas ou instituições mundanas em objetos de culto dogmático, cria-se uma religião laica, ou seja, um artigo de fé desprovido de conteúdo metafísico.

No Brasil, por exemplo, existem várias religiões laicas com milhares de fiéis. Uma das mais numerosas e fervorosas é o Corinthians, cuja comunidade de torcedores se autodenomina "Fiel". Sendo assim, o Corinthians é uma seita, não necessariamente no mal sentido.

Outro exemplo de religião laica é o PT, que é uma verdadeira seita, no sentido político do termo. Em escala mundial, as máfias, a KGB, o comunismo, o ambientalismo radical etc. são religiões laicas com milhões de seguidores.

Voltando à Igreja Universal do Reino de Deus, se o próprio cabeça da igreja odeia religião, refaço a pergunta do início do texto: que diabos ela prega, se me permite o trocadilho? Auto-ajuda? Neurolingüística? Macumba? O que, enfim? Ou então a Igreja Universal é uma "igreja-placebo", ou seja, se você "tomar com fé" você fica bem? Ou talvez uma pirâmide financeira disfarçada de igreja, cujos diplomas de dizimista (sic) são assinados por ninguém menos que Jesus Cristo em pessoa?

Como já falei antes, existe religião sem igreja, pois existe cura sem remédio, mas não existe igreja sem religião. Igreja sem religião é partido político sem ideologia, jornal sem linha editorial, caneta sem tinta, carro sem gasolina, lâmpada sem eletricidade, idioma sem palavras, futebol sem gol, livro sem texto, televisão sem imagem, rádio sem som etc. Em outras palavras, é uma farsa: se algo não tem o que tem que ter para sê-lo, não o é.

Por fim, digo o seguinte: se Jesus voltasse à Terra hoje e visse sujeitos como Edir Macedo fazerem o que fazem em nome dele, a primeira coisa que ele diria a todos os cristãos do mundo seria: "Eu não sou cristão!"

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente texto. Parabéns!