segunda-feira, setembro 11, 2006

Os três homens que calaram o Maracanã

Poucas são as pessoas que dominam a arte de arrebatar as multidões, seja pelo verbo, seja pela atitude. Mesmo dentre as pessoas que têm por ofício apresentar-se freqüentemente diante de multidões, tais como os políticos, os palestrantes, os sacerdotes, os músicos, os cantores, os comunicadores, os atores etc., poucos são aqueles que possuem o dom de "dialogar" com as multidões e, portanto, comandá-las. Digo "dialogar" porque a grande maioria dos profissionais que mencionei acima não conseguem fazer com que suas platéias lhes dêem o devido feedback para que possa haver uma interação harmônica entre o emissor e seus receptores. Os mestres na arte do "diálogo" com as massas podem provocar nelas uma miríade de sentimentos e reações biológicas: alegria, tristeza, euforia, êxtase, risos, gargalhadas, vaias, lágrimas, ódio, paixão, nojo, inveja, rancor, ira, felicidade, tranqüilidade, paz-de-espírito, bem-estar etc., enquanto que aqueles que não sabem "dialogar" com as massas conseguem, no máximo, provocar dispersão (mental e/ou física), além, é claro, de sono, o qual, muitas vezes, pode ser constatado através de bocejos ou mesmo de roncos generalizados.

Porém, se você acha difícil agitar uma multidão, imagine calar uma. Imagine uma grande arena que tenha capacidade para abrigar milhares de espectadores. Um lugar em que, freqüentemente, são realizados espetáculos de massa extremamente emocionantes. A arena de que estou falando é o Maracanã, o maior estádio de futebol do mundo. Imagine-se fazendo qualquer tipo de performance perante todos aqueles milhares de pessoas. Qualquer coisa que você fizer durante sua apresentação pode arrancar ovações, risos ou vaias da multidão. Mas você consegue imaginar a façanha que seria calá-la? Você já parou para pensar em como deve ser difícil calar o Maracanã? Pois é. Realmente, trata-se de algo tão extraordinariamente difícil que apenas três homens conseguiram fazê-lo até hoje, em 56 anos de existência do estádio: Frank Sinatra, João Paulo II e Gigghia.

Em 2 de fevereiro de 1980, Frank Sinatra cantou no Maracanã. A multidão calou para ouvir A Voz.

João Paulo II, um dos maiores papas (senão o maior) de toda a história da Igreja Católica, calou o Maracanã duas vezes: em 1980, em sua primeira visita ao Brasil, e em 1997, em sua terceira e última visita ao País, ao consagrar, em ambas as ocasiões, a glória de Deus na grande arena da Cidade Maravilhosa.

Agora, você pode estar pensando: quem é o terceiro homem? Para quem não sabe, Gigghia foi o ponta-direita da seleção do Uruguai que, em 16 de julho de 1950, marcou o gol da vitória sobre o Brasil, então país-sede da Copa, aos 34 minutos do segundo tempo, numa bola mal-chutada, perto do gol, quase sem ângulo e que entrou, ao rés do chão, exatamente no minúsculo espaço que havia entre a mão esquerda do goleiro Barbosa e a trave.

Num lance confuso em que Gigghia fez menção de cruzar a bola para o atacante Schiaffino chutar e marcar mais um gol, como já havia acontecido minutos antes, quando Schiaffino empatou a partida, cujo placar havia sido inaugurado pelo brasileiro Friaça logo no início do segundo tempo, Gigghia se atrapalhou com a bola e acabou chutando a gol por acidente, convertendo seu arremate involuntário e fazendo 2X1 para o Uruguai, desempatando a partida, contra um Brasil que jogava pelo empate. Este chute despretensioso, um erro que virou gol, calou, numa fração de segundo, nada menos que duzentas mil pessoas, record de público do Maracanã e record mundial de público em toda a história do futebol.

Ademais, creio que a façanha de Gigghia foi ainda maior do que a de Sinatra e as do Papa, pois, afinal de contas, tanto Sinatra quanto o Papa eram o centro das atenções daquele microcosmo chamado Maracanã, enquanto que o gol de Gigghia, que deu a Copa de 50 ao Uruguai, foi algo absolutamente inesperado, pois Gigghia não era, até aquele lance, o centro das atenções do Maracanã, mas a partir daquela bola mal-chutada, numa fração de segundo do minuto 34 do segundo tempo da final da Copa, Gigghia tornou-se nosso carrasco, na nossa terra, na nossa arena máxima e no exato dia em que alcançaríamos a glória suprema da nossa pátria de chuteiras.

Enquanto A Voz e João de Deus calaram o Maracanã como Jesus Cristo, Gigghia calou o Maracanã como Pôncio Pilatos.

Um comentário:

Unknown disse...

...QUEM REALMENTE CLAOU O MARACANÃ FOI SCHIAFINNO...OS BRASILEIROS COMEMORAVAM E NA HORA QUE ELE EMPATOU O JOGO, O MARACA FICOU CAALDO....QUANDO GIGGIA FEZ O SEGUNDO GOL, HOUVE UM SILÊNCIO, MAS NADA IGUAL O GOL DO EMPATE. POR ISSO, FAÇAMOS JUSTIÇA, QUEM CALOU O MARACANÃ MESMO FOI SCHIAFFFINO.