terça-feira, novembro 13, 2007

A arte de falar uma mentira sem mentir

Anteontem, um amigo meu me contou que há algumas semanas, ele assistiu a uma palestra de um funcionário da Secretaria de Saúde de Santos. A uma certa altura da palestra, o funcionário fez comentários elogiosos ao "avançadíssimo" modelo cubano de saúde pública, o que aliás, no caso de Cuba, é uma redundância, pois lá só existe saúde pública. Disse meu amigo que o palestrante comentou que uma amiga dele foi a Cuba e tomou um táxi com um médico que trabalhava na rede de saúde de Havana, e que o tal médico-taxista falou a ela sobre as "maravilhas" do sistema de saúde da ilha. Também pudera: quem seria louco de morar em Cuba como cidadão comum e falar mal do governo? O paredón existe para quê?

Você há de convir que algo está muito mal contado nessa história, afinal, quando um sujeito com diploma de médico, que clinica normalmente na rede de saúde, se submete a pilotar um táxi para ganhar mais alguns trocados, isso é uma indicação inequívoca de que sua renda é equivalente ao salário de um mero lixeiro. Você já deve ter ouvido falar que o único jeito possível de igualar as pessoas por completo é nivelar todo mundo por baixo. Portanto, a situação que eu acabei de descrever me parece suficiente para demonstrar isso, não é mesmo?

Além disso, o palestrante, logo após toda essa ladainha a favor da ditadura de Fidel Castro, ainda disse, a respeito do médico-taxista: "E ele não sai de Cuba, né? Interessante..."

Analisando essa argumentação e, principalmente, esse comentário final, pode-se concluir que esse cara poderia facilmente obter um DRT de ator, pois ele é um verdadeiro artista. Inclusive, eu diria que ele é um mestre na arte de falar uma mentira sem mentir.

Você deve estar se perguntando: "Como é possível falar uma mentira sem mentir?" É simples, pelo menos na teoria: o palestrante em questão disse uma verdade com base numa mentira, isto é, ele falou que o médico-taxista não sai de Cuba dando a entender que ele não sai de lá porque não quer, e não porque a população cubana não tem o direito de ir e vir. Ele fez essa afirmação pisando na linha que divide a verdade da mentira. Portanto, tudo isso me leva a constatar que ele não chega a ser um mentiroso, mas é um tremendo cara-de-pau.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Portanto, tudo isso me leva a constatar que ele não chega a ser um mentiroso, mas é um tremendo cara-de-pau."

Discordo dessa frase. O cara é um cara de pau E mentiroso, pois pra defender genocida tem que ser as duas coisas. No mais eu concordo com tudo que foi escrito.