sábado, novembro 06, 2010

Um bispo brasileiro à moda antiga

D. Eugênio: "Bandido não deve ser tratado como cidadão"

Ex-arcebispo do Rio, que completa 90 anos, diz ser possível haver entendimento com evangélicos, "mas não com todos"

D. Eugênio Sales:
FOLHA DE S. PAULO

Sábado, quando a Catedral Metropolitana do Rio abrir as portas para uma missa em homenagem aos 90 anos do cardeal Eugenio de Araújo Sales, os fiéis vão encontrar uma pessoa diferente da que comandou a Arquidiocese do Rio por 30 anos (de 1971 a 2001).

O homem sisudo, de voz e passos firmes, deu lugar a um senhor que caminha com dificuldade, fala baixo e ri.

Suas ideias, contudo, não mudaram. Diz que bandido deve ser tratado como bandido, não como cidadão.

Incomodava ser chamado de tradicionalista enquanto, durante a ditadura, o sr. ajudou entre 4.000 e 5.000 perseguidos políticos a sair do país?

Eu não achava bom ser chamado de tradicionalista. Mas continuava meu trabalho da mesma forma.

O sr. ligou mesmo para o então ministro do Exército, general Sylvio Frota [ministro do presidente Ernesto Geisel, de 1974 a 1977], e disse: "Se receber a comunicação que estou protegendo comunistas no Palácio [São Joaquim, sede da arquidiocese], saiba que é verdade"?

Disse, mas não para agredir. Estava revelando amizade, mas independência também. Não houve reação negativa dele. Uma vez fui chamado para receber a Medalha do Pacificador [concedida pelo Exército], mas não quis porque a situação era muito difícil. Frota entendeu que não fazia aquilo como afronta. Eles sabiam que eu não era comunista.

Hoje temos a questão da violência, do tráfico. Qual o papel da igreja nesse cenário?

O mesmo daquela época. Por mais de uma vez bandidos armados pararam meu carro quando eu subia para o Sumaré [região do alto da floresta da Tijuca]. Quando viram que eu estava no carro, mandaram seguir. Depois disso, sempre passo com as luzes internas acessas.
É sempre um susto. Eles conhecem o carro e procuram esconder armas. Entendo o sofrimento deles, mas isso não justifica seus atos.
Bandidos têm que ser tratados como bandidos, não como cidadãos. Bandido tem direitos humanos. Não tem direito de ser bandido, mas não pode ser injustiçado.

A seguir, meus comentários:

Hoje em dia, são pouquíssimas as autoridades da Igreja Católica brasileira que batem de frente com os bandidos, colocando-os no seu devido lugar. D. Eugênio é um bispo à moda antiga, que rejeita com veemência o relativismo moral que faz com que os bandidos e os cidadãos decentes sejam todos nivelados, sendo que muitas vezes os bandidos acabam tendo mais direitos do que os cidadãos de bem. O arcebispo é uma voz corajosa dentro do Clero brasileiro, pois, como já disse, rejeita o relativismo moral imposto pela Teologia da Libertação.

Obs.: durante a ditadura militar, D. Eugênio ajudou cerca de 5 mil perseguidos políticos a sair do Brasil. Pois bem, até aí, nada demais, pois ele cumpriu o seu papel de sacerdote. Porém, você acha que se a situação fosse contrária, isto é, se o Brasil tivesse vivido sob uma ditadura comunista, alguma autoridade ajudaria os perseguidos políticos, inimigos do comunismo, a sair do Brasil? Claro que não, não é mesmo? E sabe por quê? Por que existe uma diferença ontológica entre os comunistas e as pessoas normais, pois nós, isto é, as pessoas normais, temos caráter e sentimos compaixão, remorso, além de estabelecermos limites para as transgressões que possamos vir a cometer.

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