sábado, janeiro 21, 2012

Conversando com um louco

Recentemente, conheci um sujeito extremamente "interessante", no sentido negativo do termo: trata-se de um inglês de descendência alemã que conheci em circunstâncias as quais não revelarei por motivos pessoais. Na última vez em que me encontrei com ele, conversamos durante cerca de uma hora, e devo dizer que nunca escutei tantas tonterias num período relativamente curto de 60 minutos. Eis algumas "pérolas" do louco, divididas por temas:

GUERRA:

Ele: "O Brasil deveria ir à guerra."

Eu: "Contra quem? Por quê?"

Ele: "Contra quem e por que eu não sei, mas o Brasil deveria ir à guerra, pois da guerra costumam emergir grandes líderes; ademais, a guerra tem o poder de purificar uma nação e exterminar os líderes podres que estão no poder.

Eu: "Você acha que o Brasil deveria entrar em guerra, por exemplo, contra os seus vizinhos?"

Ele: "Pode ser. Seria uma boa."

Eu: "Mas o Brasil é um país contente com as suas fronteiras. Nós não possuímos nenhuma ambição territorial que nos coloque em situação de conflito com os nossos vizinhos sul-americanos."

Ele: "Mas o Brasil está em guerra..."

Eu: "Pode até ser, mas não se trata de uma guerra civil. Trata-se de uma guerra entre o Estado e o crime organizado."

Ele: "Concordo plenamente. Não é uma guerra civil."

Eu: "Em lugares como o Rio de Janeiro, o Estado está travando uma guerra justa, pois é uma guerra contra o narco-tráfico. E o Estado está ganhando por lá. A ocupação dos morros cariocas pela polícia é um sucesso."

Ele: "Mas o Brasil precisa de uma guerra geral."

Eu: "Como assim?"

Ele: "O Brasil precisa se fortalecer militarmente porque, em breve, a China vai invadir o Brasil."

Eu: "A China? Justamente a China, que está fazendo tantos negócios com o Brasil? Que os Estados Unidos um dia vão invadir o Brasil, ao menos é uma lorota da qual a gente ouve falar desde sempre. Mas a China? Por que a China invadiria o Brasil?"

Ele: "Em breve, os recursos naturais se esgotarão no mundo como um todo, inclusive na China, e eles vão invadir o Brasil justamente porque se trata do país com a maior abundância e diversidade de recursos naturais do mundo. Se o Brasil não se defender, os chineses vão drenar todas as riquezas naturais do Brasil, a começar, é claro, pela Amazônia."

BRASIL E BRASÍLIA:

Ele: "O Brasil é muito grande para ser um só país. Ademais, sua capital fica no meio do nada. Longe de todos os centros urbanos do país."

Eu: "Quanto ao tamanho do Brasil, não vejo problema algum; eu até gosto do fato de o Brasil ser um país de dimensões continentais. Quanto à capital, Brasília foi construída pelo mesmo motivo pelo qual os americanos construíram Washington: fazer com que a cidade planejada viva especificamente de ser a capital."

Ele: "Mas a situação de Washington é muito diferente da situação de Brasília. Apesar de Washington viver especificamente de ser a capital, a cidade em si não fica no meio do nada. Já Brasília fica longe de tudo, e essa lonjura faz com que o povo governado fique a milhares de quilômetros de distância do poder. Nesta situação de isolamento físico, o governo federal fica blindado contra qualquer pressão popular."

DEMOCRACIA, A QUESTÃO DO VOTO E OUTRAS COISAS:

Ele: "Eu nunca votei na minha vida, pois nunca encontrei um único candidato que merecesse o meu voto para qualquer cargo. Eu já morei em vários países e nunca pensei em me naturalizar justamente para não ter que votar.

Eu: "Se você não participa do processo de escolha dos governantes, você acha que tem o direito de protestar?"

Ele: "Mas é claro! Democracia é isso!"

Eu: "Alto lá! Democracia não é isso! Você pode até não votar, mas se você não vota, você não pode reclamar depois!"

Ele: "Quem disse que eu não posso? É meu direito constitucional. O ato de não votar é uma maneira de participar do processo democrático. Além de tudo isso, não me agrada esse negócio de pessoas incultas poderem votar."

Eu: "Então, você é contra o voto universal?"

Ele: "Eu acho que o voto deveria ser seletivo."

Eu: "Então, você defende o voto censitário?"

Ele: "O que é isso?"

Eu: "É o voto baseado, por exemplo, na renda média do eleitorado: o governo decreta, por exemplo, que a renda mensal mínima para o cidadão poder votar é X. Assim sendo, quem ganha menos do que X não pode votar. Esse procedimento exclui a grande maioria da população pobre do processo de escolha dos governantes."

Ele: "Não. Não é bem isso. Eu acho que cada cidadão deveria ser submetido a um "teste de cultura geral" (sic) para conquistar o direito de votar; quem não passasse nesse exame não poderia votar."

Depois, o louco falou uma coisa que certamente é mentira:

Ele: "Antes de morar aqui no Brasil, eu morei em vários países, bastante diferentes um do outro. Em todos os outros países, eu nunca conheci ninguém que tivesse sido vítima de um crime. Já quando eu tinha acabado de desembarcar aqui no Brasil, todo mundo ao meu redor já tinha sido vítima de uma infinidade de crimes."

Isso é tudo de que me lembro do que esse louco falou. É mole?

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