terça-feira, outubro 03, 2006

Ledo engano

Poucas horas depois de afirmar categoricamente que o segundo turno seria disputado entre Lula e um suposto triunvirato composto por Geraldo Alckmin, Cristóvam Buarque e Heloísa Helena, ouvi as declarações dela no rádio. Heloísa afirmou categoricamente que não apoiará nem Lula nem Alckmin e que nem ela nem nenhum outro político do PSOL poderá dizer publicamente em quem votará, exceto os militantes do partido. Heloísa afirmou que ambos representam o famigerado "modelo neoliberal", e que, portanto, nem ela nem o PSOL como um todo apoiarão nenhum dos dois. Já o caso de Cristóvam é igual ao do ex-fumante que tolera o tabagismo mas que jura jamais pôr um cigarro na boca de novo, isto é, seu antipetismo é menos forte que seus anseios por mudanças, logo, ele também não pregará o voto contra Lula.

Logo depois de ouvir tudo isso, pensei: como pude cair em tamanha cilada, armada por mim mesmo? Pensei que Heloísa Helena fosse se entregar à realpolitik. Ledo engano. Este foi o meu segundo arrependimento na minha relação com a política. O primeiro aconteceu justamente pela razão contrária, isto é, por pensar que o santista Vicente Cascione não se entegraria à realpolitik. Nas eleições municipais de 2004, votei nele para prefeito de Santos. Dois anos depois, em meados deste ano, atinei com o fato de que ele, que sempre foi um crítico acérrimo do PT, vendeu-se ao petismo, tornando-se vice-líder do governo Lula na Câmara dos Deputados. Mas o problema não é uma pessoa mudar de opinião, e sim ter uma opinião para cada ocasião, o que demonstra uma flexibilidade politiqueira que denota um caráter torto e relativista. Em termos ideológicos, pode-se dizer que Cascione é um esquizofrênico, pois seu partido sempre foi o "PVC - Partido Vicente Cascione".

Heloísa Helena é um fenômeno inédito na história republicana do Brasil. Sua única equivalente feminina em termos de ousadia foi a estadista imperial Princesa Isabel. Entretanto, o que difere as duas são as intenções finais dos projetos de cada uma: no caso da estadista, a liberdade dos brasileiros de todas as cores; no caso da comunista, a escravidão dos brasileiros de todas as classes. Eu, que cheguei a pensar que Heloísa tinha adquirido um pingo de racionalidade, perdi totalmente minhas esperanças. Errei. Errei por crer que todos mudam. Ledo engano. Há pessoas que nascem e morrem com os mais variados desvios de caráter. Há pessoas que nascem e morrem comunistas. Assim é o mundo cão da política. Quanto maior for a ilusão, maiores serão as trevas do desgosto. A cilada é mais vergonhosa quando é fruto de um ledo engano. Assim o foi Heloísa Helena: meu segundo ledo engano.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom seu texto! só discordo em um único ponto: Helóisa Helena não é tão inédita na estupidez! De mulheres estúpidas, temos as carradas. Isto pq a Princesa Isabel é incomparavelmente superior.