sexta-feira, outubro 20, 2006

Quer conversar? Tome um táxi!

Não são poucas as pessoas que menosprezam integrantes de determinadas categorias profissionais por acharem que eles não têm informação nem cultura suficientes para que se desenvolva uma boa conversa. Ledo engano. Hoje, vou falar sobre a minha categoria predileta para conversar: os taxistas.

Como eu ainda não tenho carteira de motorista e preciso, freqüentemente, deslocar-me rapidamente da minha casa a certos lugares e vice-versa, sempre tomo um táxi. Uma coisa que qualquer usuário freqüente do serviço de táxi pode observar é o fato de que os taxistas, quando não estão conversando com seus colegas de praça, estão lendo. E eles lêem muito: jornais, a Bíblia, livros laicos etc. Quando não estão lendo algo, estão conversando; quando não estão conversando, estão lendo algo. Raríssimos são aqueles que não costumam fazer nem uma coisa nem outra, até porque deve-se levar em conta que, muitas das vezes, quando eles não estão fazendo nem uma coisa nem outra, estão cochilando. E mesmo assim, mais raros ainda são aqueles que só cochilam e nada mais.

Sempre que me aproximo de um táxi, o taxista destrava a porta do banco do carona, já falando algo e me cumprimentando em seguida. Após também cumprimentá-lo, puxo conversa sobre qualquer assunto e, quando percebo, já estamos conversando a vários minutos. O que me deixa mais admirado e, às vezes, confesso, surpreso, é o fato de que os taxistas estão sempre bem-informados, antenados que são ao mundo que os cerca. Muitos deles são capazes de opinar sobre os mais variados assuntos com total desembaraço e sem reles palpites. Raros são os taxistas adeptos do famigerado clichê Eu acho que, pois, apesar de suas escolaridades serem equivalentes à média nacional, eles sabem muito mais do que muitos catedráticos que eu conheci, os quais são exímios palpiteiros, isto é, pautam suas opiniões e teses sob meros achismos.

Já fiz corridas com inúmeros taxistas que poderiam, sem falso elogio, ser verdadeiros livres-docentes em badaladas universidades santistas, pois, mesmo quando eles não sabem algo, eles perguntam em vez de palpitar, e calam ao ouvir as respostas e os comentários dos passageiros, aceitando-os como válidos até prova em contrário, e não rechaçando-os com o rei na barriga da arrogância propedêutica da qual muitos professores se investem.

Os taxistas estão entre as minha categorias prediletas para um bom papo sobre - repito - qualquer assunto. Eles possuem a informação, o conhecimento, a cultura e a humildade necessários para conversar de igual para igual com qualquer freguês. Em outras palavras, eles são vendedores natos, pois vendem seu peixe, isto é, seu serviço, como poucas outras categorias o fazem.

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